Atuação pela Vida: MP-AP participa do lançamento do projeto “Observatório do Comportamento Suicida na Adolescência”

O Ministério Público do Amapá (MP-AP), por meio da Promotoria de Defesa da Saúde, com o projeto Atuação Pela Vida, participou na noite de quinta-feira (10), do lançamento do projeto “Observatório do comportamento suicida na adolescência”, realizado pelo grupo Amanã Espaço Colaborativo, que trabalha a valorização da vida. A iniciativa ocorreu de forma on-line, transmitida pelo Youtube. O projeto tem como objetivo principal possibilitar a pesquisa e implementar ações que possam diminuir a prática de suicídio entre os adolescentes no Amapá.

Durante o lançamento, promotora de Justiça Fábia Nilci, titular da Promotoria de Defesa da Saúde e coordenadora do projeto Atuação pela Vida do MP-AP, divulgou o cronograma de ações do projeto para 2020, o qual é focado na saúde mental, com palestras, escutas psicológicas e capacitações de profissionais que lidam de frente na prevenção ao suicídio.

“Estou contente em participar do lançamento de um projeto tão importante e divulgar as ações do projeto Atuação pela Vida, que existe há mais de um ano, onde ele surgiu da necessidade do fortalecimento da rede de proteção de quem está em sofrimento”, comentou Fabia Nilci.

A Promotoria de Defesa da Saúde trabalha, desde 2019, o projeto Atuação Pela Vida, em parceria com o Ambulatório de Atenção à Crise Suicida (Ambacs) da Universidade Federal do Amapá (Unifap). A ação consiste em mutirões de escutas psicológicas, com objetivo de estabelecer o cuidado permanente com a saúde mental e, assim, a prevenção ao suicídio em Macapá, por meio de três eixos: capacitações, escutas itinerantes e campanhas de sensibilização. Este trabalho resultou, no ano passado, em inúmeras atividades.

Além da participação da promotora de Justiça, a live contou com a apresentação de outros projetos voltados para a saúde mental, como o Ambacs, apresentado pelo psicólogo Washington Brandão, o Semeamar, com Marineide Almeida (FEAP) e também sobre o Centro da Valorização da Vida (CVV), com a doutora Jane Borges.

Assista a live de lançamento:

Serviço:

Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Gerente de Comunicação – Tanha Silva
Núcleo de Imprensa
Coordenação: Gilvana Santos
Texto: Elton Tavares e Vanessa Albino
Contato: [email protected]

Definido novo formato para a celebração Círio de Nazaré 2020

Por Jefferson Souza

Nesta sexta-feira (11), o bispo de Macapá dom Pedro José Conti anunciou nas redes sociais e nos meios de comunicação da Diocese o novo formato para as celebrações deste ano do Círio de Nazaré. Os eventos centrais preparados para os dias 10 e 11 de outubro acontece na Catedral São José e, simultaneamente, na Igreja Matriz de cada Paróquia de Macapá.

De acordo com o bispo, este será “o Círio nas Paróquias”. A descentralização das celebrações é a medida para evitar a aglomeração de público, bem como, possibilitar que os fiéis vivam dentro de cada realidade paroquial a tradição do Círio.

Segundo a programação, no sábado (10), às 19h, uma missa será celebrada na Catedral São José para a apresentação do manto da imagem principal. Após a celebração, serão entregues aos quatro Vicariatos as imagens peregrinas. Após a missa, às 21h, uma Vigília de Oração será realizada com a presença dos Movimentos Eclesiais, Novas Comunidades e Grupos da Diocese de Macapá.

Simultaneamente a missa da Catedral, as comunidades estarão reunidas na Igreja Matriz de cada Paróquia para celebrar também a missa pré-festiva votiva à Virgem de Nazaré, como expressão de comunhão eclesial e devoção. Também nas Paróquias deverá acontecer após a celebração uma vigília de oração, desta vez, com a participação da juventude.

No domingo, às 7h, na Catedral e também em cada Igreja Matriz Paroquial, acontece a tradicional Missa do Círio. Após as celebrações, as quatro imagens peregrinas percorrem em carro aberto os bairros da capital, de acordo com o percurso organizado por cada Vicariato. A imagem principal permanecerá exposta na Catedral São José para as celebrações das 10h e 19h do dia do Círio, para as celebrações da semana e eventos da programação social.

A Comissão Organizadora convida os fiéis no dia do Círio a ornamentarem com enfeites e altares a frente das residências ou outros ambientes possíveis para fazerem sua homenagem à Virgem de Nazaré durante o percurso, sempre respeitando as medidas de distanciamento e uso de máscara.

Homenagens

Dom Pedro Conti também anunciou que outra novidade nesta programação acontece após a missa das 10h no domingo (11). Em frente à Catedral São José vai acontecer uma homenagem às vítimas da Covid-19 no Amapá. Após a homenagem, será realizada uma queima de fogos em honra a Nossa Senhora de Nazaré.

A queima de fogos será está programada também para o final de cada carreata dos Vicariatos, podendo também ser realizada pelas comunidades ou pelas famílias reunidas.

O Círio nas Paróquias continua de 11 a 17 de Outubro com as imagens peregrinas percorrendo as igrejas, capelas, comunidades, instituições e famílias, segundo a programação e percurso organizado por cada Vicariato.

Pastoral da Comunicação
Diocese de Macapá

DESTEMPO – Conto de Lulih Rojanski

Conto de Lulih Rojanski

Era a primeira vez em muitos anos que eu não via Florentino Ariza* sentado sob a acácia da praça, que eu não pensava em Florentino Ariza. A manhã havia parado de correr às oito horas, cristalizada em um tempo imóvel, no ar inerte, no súbito silêncio do trânsito e dos cachorros que suspenderam a travessia da faixa de pedestres para olhar em direção às nuvens, pressentindo a imobilidade do tempo. O mendigo errante, que naquele dia morava no canteiro, ouviu a tristeza das raízes das papoulas sob a terra há dois meses sem chuva. Uma menina que viera de longe para assistir ao sol dos trópicos, com sua pele morim e sua sombrinha floral, paralisou-se atenta ao céu, espremendo entre as pálpebras o azul juvenil das íris.

Pelo tempo que durou o destempo. Passaram-se minutos que podem ter sido horas, que podem ter sido dias, meses, qualquer medida oficial de tempo, quando a manhã voltou a correr. Mas os relógios nos pulsos, nos bolsos, nos painéis ofuscados pela claridade das oito horas marcavam ainda oito horas. Foi quando os cachorros prosseguiram a travessia, o mendigo moveu o silêncio em direção à menina de sombrinha floral, que por sua vez apressou o passo atrás das borboletas que sobrevoavam as papoulas. Somente Florentino Ariza não voltou a aparecer sob a acácia. Foi necessário o destempo para apagar minha lembrança de Florentino Ariza.

*Personagem de Gabriel García Márquez em “O amor nos tempos do cólera”
**Conto publicado no livro Gatos Pingados

MP-AP realiza minicurso sobre “Elaboração de Denúncia e Termo de Acordo de Não Persecução Penal”

O Ministério Público do Amapá (MP-AP), por meio do Centro de Estudo e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF/MP-AP), realiza o minicurso “Elaboração de denúncia e Termo de Acordo de Não Persecução Penal”, ministrado pelo e professor doutor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), promotor de Justiça Iaci Pelaes. O evento iniciou nesta quinta-feira (10), com o objetivo de promover o aperfeiçoamento dos servidores e estagiários que trabalham diretamente nas Promotorias de Investigações Cíveis e Criminais da Segurança Pública (PICC-SP).

O encontro acontece presencialmente no auditório do Complexo Cidadão Zona Sul do MP-AP com transmissão, ao vivo, pelo Canal do MP-AP no Youtube. Na abertura, o promotor de Justiça Marco Antônio Vicente, coordenador PICC-SP, destacou a importância dessa capacitação para melhor instrução das denúncias ofertadas pelo Ministério Público.

“Os dois temas desse minicurso são de suma importância para membros, servidores e estagiários, mas gostaria de destacar o termo de acordo de não persecução penal, que é justamente a possibilidade do MP-AP, em alguns casos, de ter um acordo antes de haver a denúncia, onde esse acordo, com certeza, diminuirá o volume de processos no judiciário, melhorando nossa ação”, destaca Marco Antônio.

O minicurso foi dividido em dois dias, com abordagem no primeiro dia do tema sobre a elaboração de denúncia e no segundo, o termo de acordo de não persecução penal, ambos ministrados pelo promotor de Iaci Pelaes, que reforçou o quanto esse curso vai atualiza os trabalhos realizados na PICC-SP, onde é titular.

“São dois temas importantes para nosso aperfeiçoamento e o curso surgiu de uma necessidade de melhoria em nossas peças de denúncia. Por isso nosso foco foi nos servidores e estagiários ligados diretamente a esse trabalho, que contribuirá para a eficiência da Promotoria onde estão alocados, destacando nosso serviço para a sociedade”, pontua Iaci Pelaes.

O minicurso além de presencial, também está sendo transmitido pelo Youtube, e pode ser acessado clicando no link: https://www.youtube.com/watch?v=oMkjMUn_CHA&feature=youtu.be

Sobre Iaci Pelaes

Com 24 anos de MP-AP e 25 anos como professor da Unifap, o promotor de Justiça Iaci Pelaes é doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais; tem pós-doutorado em Democracia e Direitos Humanos pelo Ius Gentium Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos (Coimbra/Portugal), 2018 e especialização em Direito Penal e Direito Processual Penal pela Universidade Estácio de Sá. É bacharel em Direito pela Universidade da Amazônia, 1992 (Antiga UNESPA), com especialização em Direito Constitucional Aplicado pela Universidade Federal do Pará e bacharel em Teologia pelo Instituto Internacional de Teologia, 2017. Exerceu Estágio Docência Supervisionado, na disciplina Direito Tributário na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Ele é professor Adjunto da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, onde leciona Filosofia do Direito, Direito Econômico, Financeiro e Tributário; professor da Escola de Magistratura do Amapá (2002 a 2005). Ingressou no MP-AP como promotor de Justiça em 1996. Foi Procurador Jurídico da Unifap. Exerceu o cargo de procurador-geral de Justiça do MP-AP, no biênio 2009-2011 e de Diretor Geral da mesma Instituição, no período de julho de 2006 a fevereiro de 2009. Eleito vice-presidente para Região Norte do Conselho Nacional de Procuradores Gerais do Ministério Público, 2010.

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Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Gerente de Comunicação – Tanha Silva
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Coordenação: Gilvana Santos
Texto: Vanessa Albino
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Gaeco/MP-AP, com apoio do Bope, cumpre prisão de traficante de Oiapoque, em Macapá

Na última terça-feira (8), o Ministério Público do Amapá (MP-AP), por meio de seu Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e com o apoio do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), cumpriu um mandado de prisão, expedido pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Oiapoque, em Macapá. A ação do Gaeco e Bope prendeu Edivaldo Avelino Conceição, acusado de diversos crimes, como tráfico de drogas, associação para o tráfico e estupro de vulnerável.

Edivaldo Conceição é conhecido pela polícia da cidade como ‘Perninha’. Ele responde a outros processos por infração à Lei de Drogas, junto ao município do Oiapoque – cidade localizada na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.

As investigações do Gaeco e Bope identificaram, localizaram e prenderam o acusado, que  vivia clandestinamente em residencial de alto padrão na capital amapaense. O acusado já tem em seu desfavor condenações, que somadas, passam de 17 anos de reclusão, para serem cumpridas em regime fechado, pelos crimes descritos.

Conforme a coordenadora do Gaeco, promotora de Justiça Andrea Guedes, os promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado  sabem que essas espécies de crimes, além de gerar lucros atraentes a seus integrantes, fomentam as Organizações Criminosas (Orcrim) violentas. E, por isso mesmo, sempre contam com o apoio das instituições de segurança pública e os trabalhos de inteligência e investigação.

“Seguiremos atuando para identificar a Orcrim vinculada ao sentenciado e os crimes por eles praticados na fronteira do extremo Norte do Brasil. Continuaremos trabalhando em parceria com as forças policiais. É fundamental que estejamos unidos no enfrentamento à criminalidade e no combate ao crime organizado. Juntos temos mais chances de vencermos essa luta. Agradeço a todos os envolvidos pelo sucesso deste trabalho. Parabéns às equipes do Gaeco e Bope”, frisou a coordenadora do Gaeco, promotora de Justiça Andrea Guedes.

Serviço:

Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
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Texto: Elton Tavares
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Comunicado – Assistência Social

A Secretaria Municipal de Assistência Social comunica à população a respeito dos serviços socioassistenciais ofertados pela Central de Atendimento – Coronavírus (0800 031 9606). Devido à grande demanda de ligações e para o processamento de dados, o sistema tem apresentado instabilidade. Os usuários que buscam atendimento por meio do serviço devem continuar a chamada, mesmo quando não completar.

O órgão destaca aos usuários do serviço os horários com menor fluxo de atendimento. Segundo registros do sistema, entre 8h e 9h a demanda é baixa; e a partir das 17h até as 20h diminui o número de chamadas para atendimento. Informa ainda que as medidas cabíveis para solucionar a falha técnica do serviço estão sendo tomadas. E que a Central de Atendimento – Coronavírus opera de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h.

Secretaria Municipal de Assistência Social

Sobre Palafitas e a Maré de ser gente – Conto de Jaci Rocha

Foto: Manoel Raimundo Fonseca.

Conto de Jaci Rocha

Era um dia ensolarado, daqueles de doer nos olhos, quando o sol está no ‘cio’, aqui pelo Equador. A beira do rio, à foz da fortaleza, o Amazonas ardia e brilhava, a ponto de encandear o olhar.

Meu pai pescava com meus irmãos, em uma canoa embaixo de uma ponte, que unia as estradas entre Macapá e Santana.

Foto: Floriano Lima

Eu – a pequena que não conseguia parar quieta e em silêncio – fiquei ‘na terra’, brincando com a filha do vizinho, sob o olhar de meu pai. Brincávamos sobre as palafitas que encobriam a superfície, pois em tempo de maré baixa, abaixo das palafitas, o mundo era feito de argila, barro que adquiria um brilho dourado e espelhado. Gostava de contemplar aquele chão.

Foto: Floriano Lima

E nesse contemplar, tudo era belo e descoberta. Um peixinho em uma poça de água que a maré havia ‘deixado’, uma plantinha desconhecida…e foi assim que, por sobre as frestas da palafita, entre bonecas e panelinhas, meu olhar enxergou uma nota de um ‘alto’ valor – ao menos, para minha tenra infância, – repousada sobre o barro.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca.

Eram tempos da moeda ‘cruzado’. Empolgada, iniciei uma grande expedição de resgate do ‘pequeno tesouro’. Planejei milimetricamente, fui até o início da palafita e, esgueirando o corpo – absolutamente longe dos olhos de meu pai – mergulhei naquele mar de lama. Peguei a tão sonhada nota e voltei, triunfante e suja até os cabelos.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca.

Tomei banho e aguardei o pescador voltar com os frutos dos trabalhos do dia. Ele veio sorridente. Eu estava banhada e de cabelos trançados, balançando a nota, sorridente. A maré do Amazonas começava a subir e um vento brincava com o vestido rosa claro que usava. Eu estava feliz e orgulhosa da ‘conquista’.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca.

Aqueles olhos que chegaram brilhando fecharam o tempo. Perguntaram onde encontrei a nota. Respondi que foi embaixo das palafitas. Ele disse: ” E por que você pegou? não é seu. Devolva”. Com a inocência de uma criança de sete anos, corri na direção da palafita e, entre as frestas, ensaiei jogar a nota de volta à lama.

Meu pai, interrompeu o ato e perguntou “Filha, mas foi assim que você pegou?”. Inocentemente (e até bastante empolgada e orgulhosa), contei-lhe os detalhes da grande aventura. Meu pai, na sua sabedoria filosófica, falou: “Agora, tenha o mesmo trabalho para devolver, meu bem”.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca.

Entendi o que ele esperava, meio perplexa. Sob um sol que caía aterrorizante, vestida naquele vestido rosa clarinho, vergonhosamente em silêncio, mergulhei novamente por debaixo das palafitas, e vi a maré de perto, chegar e misturar à lama, à beleza do vestido, recém-perdida, ao estranho sentimento de que devia mesmo fazer aquilo. Assim, devolvi a nota, no mesmo exato lugar em que a peguei.

Ao voltar para casa, meu pai explicou o que eu precisava aprender, ao fazer aquilo: Que tudo que você subtrai de alguém, ainda que esta pessoa não saiba ou veja, faz com que você mergulhe na sujeira. E devolver é mergulhar nesta mesma lama, pedir desculpas e retornar, inteira. Tenho certeza que esta foi a minha primeira lição sobre integridade.

Foto: Floriano Lima

Ah! Antes de retornar, tomamos um banho gostoso naquele rio lindo. E lá, fui ensinada a lavar o dia e aperfeiçoar o aprendizado, em um rio limpo e abençoado, com as dádivas de Deus e as coisas todas minhas, que nada poderia comprar: como o riso de meu pai, que algum tempo depois, naquela mesma paisagem, me ensinou a nadar e a andar pelas palafitas da vida com meu próprio tamanho. A descobrir os espaços, com meu coração e sob os próprios pés.

Arroz com alho – Crônica de Pat Andrade

 

Clarice Lispector (déc.1960) – foto: Maureen Bisilliat -Acervo da autora IMS

Crônica de Pat Andrade

Estou fechando minha participação em um Simpósio de Poesia, para o qual fui convidada, ao mesmo tempo em que reviso um texto e preparo arroz.

Enquanto picava o alho, me veio à cabeça a Clarice Lispector. Que cheiro teriam suas mãos quando escreveu seu primeiro conto conhecido, Triunfo, publicado em 1940. Ela tinha 19 anos. Era tímida, mas ousada. Mais do que eu, inclusive.

Agora, o cheiro do arroz temperado se espalha pela casa. Sigo trabalhando diante do computador, respondendo e enviando mensagens.

Um passarinho canta aqui fora, bem pertinho da minha janela. Me pergunto: se eu não fosse poeta, essas coisas passariam despercebidas?

Será que a Dona Maria, mãe de oito filhos – com mais um na barriga – que lava e passa roupa pra fora, cozinha, cuida dos moleques sozinha, acorda às cinco da manhã pra buscar água no poço da vizinha, será que ela ouve esse passarinho? Será que tem arroz pra cozinhar?

Perguntas vãs, com respostas impossíveis sem poesia. Só a crueza de um cotidiano que não é o meu.

Meu gato me olha e se enrosca em minhas pernas – puro interesse: quer comer – e eu paro por aqui, antes que o arroz queime.

Poema de agora: SE – Pat Andrade

SE

se me viro na cama
se perco o sono
se choro sozinha
já não tens como ver

se chamo teu nome
se grito mais alto
se rezo baixinho
já não tens como ouvir

se perco a hora
se quebro o salto
se salta o botão
já não tens como saber

se esqueço o batom
se eu erro o tom
se eu te digo não
já não tens como entender

se a lua não sai
se o sol não se põe
se a chuva não cai
já não há o que fazer

se não és meu bem
se não há paixão
se o amor não vem
já não há o que dizer

Pat Andrade

Semana da Amazônia: curiosidades sobre serpentes atraem participantes a minicurso no Bioparque da Amazônia

As serpentes por si só chamam atenção, seja pelo sinal iminente de perigo ou pelo fato de ser um animal exótico, nem um pouco comum de ser encontrado no dia a dia. O minicurso “Serpentes peçonhentas e não peçonhentas”, como parte da programação da Semana da Amazônia, realizada pelo Bioparque, atraiu participantes e um grande número de curiosos interessados em conhecer um pouquinho mais sobre esses répteis.

Segundo Anderson Silva Pena, biólogo do Bioparque e instrutor do curso, o objetivo foi passar algumas curiosidades sobre as serpentes, reconhecer os riscos inerentes aos principais animais peçonhentos, prevenção e o que fazer em caso de acidente. “Estamos aqui com algumas cobras em exposição que foram capturadas na área do Bioparque somente para essa atividade lúdica, pois logo em seguida esses animais vão voltar à natureza. Temos também as espécies em formol [taxidermizadas – empalhadas]”, explicou.

Curiosidades

As serpentes são animais de sangue frio. São répteis pertencentes à ordem Squamata (animais que possuem escamas), sendo conhecidas popularmente como cobras. As serpentes endêmicas de climas quentes são ovíparas; enquanto que algumas espécies de climas temperados são vivíparas. Nas espécies vivíparas, os ovos eclodem dentro do corpo da mãe.

Durante a vida, esses animais trocam de pele inúmeras vezes, em um processo chamado de muda. Uma característica muito interessante da serpente é a capacidade que ela tem de abrir a mandíbula para ingerir presas muito maiores do que ela mesma.

No Brasil, existem mais de 405 espécies de serpentes, sendo apenas 63 consideradas peçonhentas. Em quase todas as cobras peçonhentas podemos encontrar uma depressão localizada entre cada olho e a narina, que é chamada de fosseta lacrimal, ou fosseta loreal. Esse órgão é especializado em sentir as variações da temperatura, o que permite à serpente saber se há a presença de outro animal.

A surucucu pico de Jaca é a maior serpente peçonhenta das Américas.

Acidentes

Os acidentes por animais peçonhentos, especialmente os acidentes ofídicos, foram incluídos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na lista das doenças tropicais negligenciadas que acometem, na maioria das vezes, populações pobres que vivem em áreas rurais. Muitas espécies de cobras do Brasil são venenosas, mas apenas duas famílias são consideradas peçonhentas, por sua capacidade de inocular o veneno: elapídeos e viperídeos.

O que fazer em caso de acidente

– Procure atendimento médico imediatamente;

– Informe ao profissional de saúde o máximo possível de características do animal, como: tipo de animal, cor, tamanho, entre outras;

– Se possível, e caso tal ação não atrase a ida do paciente ao atendimento médico, lave o local da picada com água e sabão, mantenha a vítima em repouso e com o membro acometido elevado até a chegada ao pronto socorro;

– Antivenenos são os únicos tratamentos específicos para acidentes ofídicos;

– Mesmo com reações adversas a aplicação não deve ser atrasada sobre nenhum pretexto;

– O tratamento alternativo prova apenas o atraso na aplicação do soro antiofídico que é o único tratamento a ser usado nesses casos.

O que não fazer em caso de acidentes

– Chupar o veneno;

– Torniquete.

Benefícios das serpentes para o humano

Venenos de serpentes são fontes ricas em compostos bioativos potencialmente úteis, podendo ser utilizados na criação de fármacos. Um exemplo: o medicamento Captopril (controlador de hipertensão) é feito a partir do veneno Bothrops jararaca.

Uma toxina encontrada no veneno da cobra cascavel poderia aumentar a sobrevida de casos de câncer de pele em até 70%, segundo um estudo feito com camundongos pelo Instituto Butantã, em São Paulo. A grande vantagem da proteína crotamina é que, na dose certa, ela distingue células normais das cancerosas e consegue entrar dentro destas, com um efeito que dura até 24 horas.

Como prevenir acidentes com animais peçonhentos

O risco de acidentes com animais peçonhentos pode ser reduzido tomando algumas medidas gerais e bastante simples para prevenção:

– Usar calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem;

– Examinar calçados, roupas pessoais, de cama e banho, antes de usá-las;

– Afastar camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários;

– Não acumular entulhos e materiais de construção;

– Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede;

– Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés;

– Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos;

– Manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros;

– Evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras junto às casas e manter a grama sempre cortada;

– Limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa de um a dois metros junto ao muro ou cercas.

Conhecimento e convivência

Maria Raimunda Cardoso disse que participou do minicurso para conhecer mais sobre as serpentes. “Pelo que aprendi aqui, nesse curso, as serpentes não são tão vilãs assim como falam. Elas também têm papel importante na natureza e são benéficas a nossa saúde. Precisamos conhecer mais sobre as cobras, como manusear, tratar e conviver em harmonia com esses animais”, observou.

Para Jean Lucas, que também participou do curso, o que mais chamou a atenção foi a beleza das serpentes. “Eu não tenho medo de cobras, tenho paixão por elas. Acho esses animais muito bonitos e vim aqui aprender a conviver com eles, sem precisar matá-los quando encontrar com um na natureza”, declarou.

Secretaria de Comunicação de Macapá
Volnei Oliveira
Assessor de comunicação
Fotos: Rafael Oliveira

Poema de agora: RONDÓ DO DIA PACATO – Ori Fonseca

Ilustração: Fernando Lopes

RONDÓ DO DIA PACATO

Eu nunca pensei que amaria tanto
O tempo nu desprovido de espanto,
O dia pacato, o passo sem pressa,
A estrada livre onde nada tropeça,
A noite sem dor, sem medo, sem pranto.

Porque todo dia é um dia santo,
E todo momento é um tempo de encanto
Desde o bafejo em que a vida começa,
Eu nunca pensei que amaria tanto.

Eu olho o tempo, ele me olha e, no entanto,
Juramos paz, cada qual no seu canto,
Mentimos muito, mas ninguém confessa.
E a vida segue, caminha, atravessa
Quisera sem dor, sem medo, sem pranto…
Eu nunca pensei que amaria tanto.

Ori Fonseca

Poema de agora: Telhas Quebradas – Luiz Jorge Ferreira

Telhas Quebradas

Quando tocava El Reloj nas festas do Diretório Estudantil no Grêmio defronte de casa, na Av. Ernestino Borges.
E a Banda exuberava nos sopros e as baquetas do Biroba soavam como Violinos Vienenses.
Eu, deitado em uma rede sem cor, que carregava dentro dela, meus sonos, meu sonhos, e o grafite do meu corpo magro, nela desenhado, meu coração a si próprio atropelava, e acelerava como a caçamba da Prefeitura dirigida pelo Congó em direção ao Curiaú.


Deus ria.
Eu nem sabia onde o amor morava, mas flertava com o brilho das estrelas, que infiltravam sua luz pelas frestas das telhas quebradas.
Havia em mim um estranho desejo de tirar a vida para dançar.


Mas eu ainda não sabia se a vida era apenas aquela sede amarga no calor da noite abafada que eu tentava afugentar com dois goles d’água quentes vindas do pote de barro descascado.
Ou a vida, era a felicidade de ver o Carapanã saciado abandonar os meus pés, e ir ouvir o resto do Bolero, entre as fimbrias do Mosquiteiro.

Eu escutava de onde eu estava o Nando dos Cometas emitir com voz aveludada a terceira parte da Música em um acorde mais agudo, e aquele trinado permanecia no peito por dias e eu me flagrava atravessando o campo Escoteiro, cedinho, indo a aula no IETA, solfejando… “detém as horas te peço, faz está noite perpetua, para que meu bem não se afaste de mim, para que não amanheça […]”.


Logo as estrelas, agora apagadas pela luz do Sol.
Espremiam a grama sob meus pés, pousadas em meus ombros.
Ou eram elas ou eram meus sonhos que tolos e franzinos, se escondiam debaixo da marquise do Grêmio Estudantil.
Dormi.


Hoje desenho meu rosto imberbe nos dias, mas eles estão sujeitos a noites.

Não acho as telhas.
Onde esqueci o Relógio.

Luiz Jorge Ferreira

*Poema Quase Memorial de Luiz Jorge Ferreira, Osasco – SP. 02/09/2020 – Do livro “Defronte da Boca da Noite ficam os dias de Ontem”.

Os aviões – Conto de Lulih Rojanski

Conto de Lulih Rojanski

Amanhecia quando começaram a passar os aviões. E o primeiro a passar foi o primeiro avião da vida do lugar. Nunca antes houve outro que tivesse sobrevoado tão remoto povoado ao sopé de tão remota montanha, onde tudo o que se via no céu eram as neves do inverno e as nuvens baixas que escondiam os sóis e as luas.

Naquele dia, as nuvens abriram espaço aos aviões e todos correram para os campos com o olhar perplexo para ver passarem os grandes pássaros de aço com seus roncos de monstro desperto. Os rostos queimavam de felicidade ao insólito desfile de meia dúzia de aeroplanos que faziam cinematográficas acrobacias, inusitados desenhos no céu.

As crianças eram as mais encantadas, e se habituaram logo à névoa mágica despejada sobre o povoado, pois as cerrações dos seus invernos na montanha eram infinitamente mais densas. Os velhos deitavam-se de costas, uns ao lado dos outros, para ver o espetáculo, e nem eles nem as crianças sentiam passar o tempo, hipnotizados pelo milagre da descoberta de sua existência pelos homens que possuíam aviões.

Quando não havia mais ninguém dentro das casas, quando todos se encontravam deitados ou sentados na relva, os aviões despejaram a linda névoa vermelha que magicamente levou os velhos, os jovens e as crianças para o sono sem volta.

Discos que formaram meu caráter parte I: Mondo Bizarro (1992) –  28 anos que o álbum foi lançado. – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Existem fatos marcantes na vida das pessoas que realmente só são importantes para elas mesmas. O que quero contar nessas humildes linhas é sobre a importância de fatos que ocorreram em minha vida,  que formaram ou deram esboço sobre o que sou hoje.

Corria o ano de 1992 e eu tinha 12 anos. Estava naquela fase que não sabemos se somos moleques ou homens. Etapa que começamos ser cobrados por atitudes ou pensamentos e responsabilidades nos começam a ser jogadas.

Foi mais ou menos nessa época de transição que conheci algo que pautaria minha vida até os dias atuais e me fazem ser o que sou hoje. Agradeço profundamente a meu irmão que me deu uma k7 (jovens as músicas já vieram em retângulos plásticos, com furos e eram chamados de “fita”), em um esquema assim “Toma, não gostei disso”.

Ouvir aquilo pela primeira vez foi FANTÁSTICO. Eu tinha em mãos um verdadeiro tesouro algo relativamente como o “Santo Graal”, simplesmente um pequeno esboço da banda que eu passei automaticamente achar a melhor de todas.

Pra começar pela capa, uns caras todos deformados, com uma atmosfera de “Foda-se, não estamos nem ai”, ou algo como “Não somos os mais bonitos, somos os mais fodas”. E era isso que realmente importava. Lembro-me que tinha em minha casa artefatos que hoje são jurássicos como um “Toca Fitas”, vermelho que atendia pela alcunha de “Meu primeiro Gradiente” (muitos vão saber o que é isso).

Ao colocar aquele famigerado k7 e ouvir os primeiros acordes de “Censorshit”, minha vida realmente ganhou sentido. Ver aquela figura, de voz esquisita, mandado aquelas verdadeiras farpas contra a censura americana foi algo que me fez refletir sobre o que fazemos no mundo. Ramones mostrava pra mim naquele som, que tudo estava errado. Que temos que fazer algo para melhorar e que o melhor e fazer por nossas mãos.

Mondo Bizarro, também foi o disco em que a banda conseguiu seu maior apelo e sucesso comercial, chegando a receber discos de ouro e platina em vários países como Brasil, Argentina e Chile (Pra ficarmos em nosso continente). Também foi o primeiro disco de estúdio que o C.jay Ramone gravou com a banda. Esse cara é responsável pela excelente “Strengh To Endure”. É para mim a melhor formação de todos os tempos de uma banda de rock: Joey, Johnny, C.Jay e Marky.

O disco brinda os fãs com uma bela mensagem em “It´s Gonna Be Alright”, “Isto é dedicado aos nossos fãs pelo mundo,mais fiéis e com certeza, quando a vida fica frustrante vocês fazem valer a pena…Não é ótimo estar vivo?”, exemplo de respeito e dedicação a os fãs é algo muito raro.

Sem contar claro da participação de Dee Dee Ramone que mesmo fora da banda nos brinda junto com Daniel Rey com a gloriosa “Poison Heart” Trilha sonora de “Pet Cemetery 2” (Clássico), bom podem ver que realmente um “Discão”.

A partir dessa audição e de muitas que fiz depois deste dia, minha vida ganhou relevância, pra começar o gradiente vermelho foi decorado logo com uma oriunda caveira desenhada toscamente por mim no esquema “Faça você mesmo”. Agradeço-te muito meu irmão por ter me dado sentido. Durante muitos anos o que eu realmente quis foi uma jaqueta preta, uma calça jeans rasgada, uma moto e uma camiseta dos Ramones.

VIDA LONGA A O PUNK!

*Marcelo Guido é jornalista, professor, assessor de comunicação, pai da Lanna e Bento e marido da Bia, além de amante de Rock and Roll.

**Mondo Bizarro é 12º álbum de estúdio dos Ramones. Em 1 de setembro de 1992, a banda lançou este, há 28 anos. Por conta da data, republicamos este texto porreta do Marcelo Guido.