Um ano de saudades da vovó (jamais esqueceremos o seu amor, Peró)

Hoje completam 365 dias sem Perolina Penha Tavares, a nossa amada Peró. Vovó virou saudades há exatamente um ano, vítima da Covid-19, essa doença que partiu tantos corações. E que longo ano foi esse, pois sua ausência dói, mas o legado de amor deixado pela nonagenária mais linda que conheci, conforta.

Sim, neste 15 de março, as saudades deram uma apertada mais forte por conta dessa memória afetiva. Na minha infância, eu adorava quando chegava os sábados e eu ia pra casa dos meus avós. Lá nunca faltou amor. Ao contrário, o amor sempre foi muito transbordante, sempre mais derramado pela Peró e tia Maria do que pelos demais.

Peró partiu sentindo que era o momento de sua passagem. A gente sente falta, mas o maior sentimento é o de gratidão. Somos gratos pela longa e feliz vida que ela teve e do quanto desfrutamos de seus ensinamentos e companhia incrível, sensacional, maravilhosa, entre outros tantos sinônimos do que a Peró foi e é para nós, sua/nossa família.

Em outro texto, escrevi: “no filme “Amor Além da Vida”, Albert Lewis (personagem interpretado pelo ator Cuba Gooding Jr.) disse: “O inferno verdadeiro é a vida que deu errado”. Vovó é o avesso e disso temos orgulho, pois a dela deu muito certo! Perolina é exemplo de pessoa bem sucedida, mulher extraordinária, uma pessoa sensacional, sábia, ponderada, discreta e bem humorada. Sempre teve muita força em toda sua delicada forma de existir”. Foi exatamente assim.

Também repito: gosto de pensar que a vovó encontrou com o vovô e com o papai. Sua ida é controversa, pois ela jamais irá embora da gente. Penso nela todos os dias. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima.

Enfim, vovó, sinto saudade todos os dias e penso em ti sempre. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Te amo, Peró!

Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez” – Trecho do poema Filtro Solar, de autor desconhecido.

Elton Tavares

Dois anos de pandemia: a gente perde o chão quando falta saúde – Crônica de Elton Tavares

 


2020 não foi fácil pra ninguém. 2021 não foi diferente. 2022 amenizou, mas a pandemia, mesmo enfraquecida, persiste. Durante dois anos, cada um de nós perdeu um amigo, parente ou conhecido que gostava. Realmente a gente perde o chão quando falta saúde. Hoje, 14 de março, completou dois anos que estamos travando uma guerra desleal contra esse vírus.Continuo grato a Deus por não ter morrido de Covid-19. Mas lamento as perdas, sobretudo do meu núcleo de amor, minha avó, que amanhã (15), completa um ano de saudades.

Foram dois anos fazendo esforços. A maioria dos irresponsáveis não quis fazer e não faz. Dois anos de negação, torpeza e omissão criminosa do mito satânico e seus asseclas que plantam um jardim de lápides. Só lamento pelas estúpidas atitudes daqueles tempos tão difíceis. Pagamos a penitência de ter colocado esses caras no poder, mas a esperança não morre sem ar.

Só de lembrar, fico triste e puto com aqueles irresponsáveis. É como diz o adágio popular: “a ignorância faz devotos”. A população assistiu a tudo numa calma quase hipnótica. Mas quem não acordou com a triste realidade, a gente surrou com fatos.

Eram telefonemas doloridos, mensagens assustadoras, posts terríveis sobre partidas nas redes sociais. As mortes somaram milhares de vítimas. Isso só no Brasil. Destes, mais de mil no Amapá. Parece uma cruel realidade paralela. Uma distopia, um purgatório e, às vezes, um inferno contínuo, quando contamos nossos mortos.

Nas melancólicas escuras e silenciosas horas da noite, resmunguei, orei, me indignei e chorei incontáveis vezes. Na maioria daqueles dias e noites, doses cavalares de álcool ajudaram a flutuar na tormenta.

Apesar da pandemia retroceder e a vacinação avançar, graças a Deus, seguimos obstinadamente lutando por nossas vidas. Continuo cauteloso e com cuidados, mesmo os mandatários afirmarem que nem de máscaras precisamos mais. Porém, ainda uso.

Enfim, foram dois anos de um pesadelo,  pois a verdade é que a gente perde o chão quando falta a saúde de quem amamos. Pense nisso e cuide bem dos seus amores!

Elton Tavares

A mulher da chuva e do sol do Equador – Crônica poética de Fernando Canto

Foto: Fernando Canto

Por Fernando Canto

Chove em Macapá neste amanhecer de pétalas caídas nos jardins. Ondas verticais fustigam a pobreza das ruas, alagam o oco das pedras e atiçam o furor do céu, onde deuses cavalgam atônitos em busca das últimas estrelas que o firmamento esconde nesta época de nimbos. Uma dádiva esta chuva. É uma faca que golpeia o rastro dos caracóis e que retarda o voo das aves migratórias. Uma chuva é uma caba colossal dona de seu próprio voo que procura sobre a terra o segredo do veneno perdido na face espelhada das lamas matinais Uma chuva é um dom de Deus na relativa necessidade de quem a almeja. E assim eu te quero, chuva. Hoje mais do que nunca, porque és elemento da minha paisagem cotidiana, cenário da transformação do meu amor e indubitável perfume que cai suavemente sobre nós, sobre mim e ela, a mulher da minha vida.

Mulher que chove aos cântaros quando envidraça a escuridão dos teus sentidos, mulher que arde – absolutamente chama – sem o consumir do fogo. E chama a oceânica vontade do teu ser plural no sexo espumoso que especula degredos, inda que guardando segredos indizíveis na semente do tucumã, fruta ancestral. Mítica mulher que habita a cavidade dos sonhos enredados e abre as portas para o resoluto amor. Inexorável és como as calvas cúpulas da serra do Tumucumaque, a cobra adormecida, a morada dos alados seres que nunca estilhaçaram o gelo inexistente no teu dorso. Reserva-te ao direito de seres como Mitaraka, ó mulher, a montanha em forma de gente, observada pelos invasores de tua curta solidão, que chegam com o vento em alucinantes tropéis. Ora podes ser um arquipélago. Uma teia abissal de ilhas perdidas no oceano, ilhas que bailam e que dançam sob a música dramática dos dias da civilização. Ora podes ser também a mãe orgulhosa do fulgor das vozes e o relâmpago capaz dessa esperança. Talvez até no sol que invade a tua garganta com sua luz vertiginosa das manhãs cênicas do Bailique tu podes transformar-te, ó mulher.

Fernando Canto e Sônia Canto- Foto: acervo pessoal do escritor. Dois amigos queridos deste editor.

Eu amo o teu estuário de loucura e a generosidade das águas que em ti moram e louvo o bailado das ondas fulgurantes e o esplendor das estações que existem em ti. Amo, sim, pois és a chibata que açoita os pesadelos, o sustentáculo que abriga bons augúrios, a flor, o jardim e a raiz das plantas crescidas no sabor da aurora, esta que invade nossa casa sem precisar pedir licença. Eu amo o teu cabelo e o magnetismo depositado na escova, assim como as páginas viradas de um livro que relemos rindo. E ali no canto do banheiro talvez uma sandália virada espere teus pés para que calces novos planos e andes na direção do oriente. Nossos livros e telas, nossos vinhos e cds flutuam sobre uma lona azul-turquesa. Estão lá, junto aos amigos, os cerzidores do que rasgamos no passado, inquilinos que são da nossa vida para sempre.

Agora me despeço. Eu vivo a luz e a sombra da mulher que esbraveja o verbo e absorve a vida. Eu observo a mão que trata a argila do manancial diário das notícias da família, eu voo vaga-lume perto deste refletor iluminante, lâmina certeira, mulher dadivosa de chuva, enfeitada de estrelas e de andaimes, amante inconclusa da minha vontade.

Sônia Canto e Fernando Canto – Foto: acervo pessoal do escritor. Dois amigos queridos deste editor.

Agora sim, eu me despeço inundado em poesia, sobre a mesa posta que abriga somente o pão quentinho e o aroma do café que tomamos juntos quando o dia chega. Eu me despeço naufragado na ternura dos teus olhos cuidadosos, enquanto a chuva, lá fora, lava almas e plantas e espera o sol brilhar para todas as mulheres que trabalham, sofrem e amam nesta terra salpicada de luz do equador.

*Do livro “Adoradores do Sol”. Scortecci, S. Paulo, 2010.

E hoje é 8 de Março, Dia Internacional da Mulher! – – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Todo homem, por mais que não queira, possui uma mulher na vida, pois parafraseando a terapeuta Efi Nyaki, “Metade do mundo são mulheres. A outra metade, os filhos delas.⁠”, viemos todos delas, de seus úteros, onde fomos gerados, alimentadora e protegidos até o momento de vir ao mundo.

Todos os dias, mulheres precisam provar que são competentes, que estão à altura, que podem, que fazem, que são, geralmente cumprindo jornadas duplas, triplas, respondendo como profissional, esposa, mãe, filha, dentre tantas atribuições.

Quando chegam em altas posições, dificilmente seus próprios méritos são exaltados, gerando o burburinho de que algum homem a colocou lá, seja qual for o tipo de vinculação. Reconhecer a competência, beleza ou qualquer outra qualidade de uma mulher é algo raro de se ver de forma voluntária até de outra mulher, pela cultura que as faz rivais e não parceiras. Mas aos poucos a prática da sororidade vem ganhando espaço e saindo do discurso, ainda que de forma tímida.

Mulheres foram criadas para dar conta de tudo, e ainda serem bonitas, cheirosas e bem resolvidas, e se falhar a autocobrança é rígida. Aí surgem ou se fortalecem a depressão, ansiedade, autoestima abalada, fragilidades escondidas muitas vezes não tratadas, por isso o dia da mulher nos serve para homenagear, acarinhar, valorizar, exaltar, mas principalmente refletir com respeito e empatia sobre nossa contribuição em todo este cenário: somos empatas ou julgadores?

Reflexões à parte, abrace, beije, presenteie hoje e todos os dias, mas acima de tudo, respeite, contribua, estimule, elogie e ampare A MULHER ou AS MULHERES DA SUA VIDA.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

CARTAZISTA: Um olhar urbano da crise econômica na pandemia (Por Fernando Canto)

Por Fernando Canto

Depois das perguntas de praxe, o delegado encara o preso e pergunta:

– O que é que tu fazes na vida além de vender drogas por aí?
– Sou letrista eu, falou Tinzinho, cheio de empáfia.
– Quer dizer que tu és compositor igual ao Osmar Júnior… o Zé Miguel…?
– Não, só letrista, com muito orgulho.
– Huumm! Ah é, é. Mas onde é que tu publicas teus trabalhos, malandro? Na baixada?
– Não, doutor, lá no centro.
– Como assim? É na banca do Dorimar? Em alguma livraria ou na boca de fumo?
– Não, doutor, é nas esquina.
– Como assim?
– Sou letrista e cartazista eu.
– Diz logo, seu féla. Não me deixa ficar enfezado.
– É que eu tô desempregado. Faço qualquer negócio.
– Para com a mentira. Olha a palmatória….
– É que eu me divido entre vender droga e fazer as letra eu.
– Quer dizer que és universitário, hem? Tu também vende drogas pros intelectuaisinhos da Universidade?
– Não, doutor.
– Me dá essa mão aqui.
– Pelamor, doutor. É com essa que eu faço as letra.
– Que letras, caralho?
– Dos cartaz.
– Que cartazes, filho de uma égua?
– Ai, ai, ai, doutor, não me bata.


– Não vou bater. – Ô Alcinão, dá-lhe um sapeca aiai nesse traficante safado e mentiroso. Olha só a conversa do malandro…
– Por favor, por favor, seu doutor delegado…
– Diz logo, seu corno. – Pra quem é que tu vendes essas porcarias.
– Eu pego com o Papacu lá do PHelp. E com o Cleoinsano da baixada Pará. Pronto. Falei. Não me bata doutor nem mande esse monstro aí me bater também de novo.
– Porra, Alcinão o artista aí te chamou de monstro… Se eu fosse tu não alisava.
– Ai, ai, ai, doutor não deixe ele me bater.
– Tá bom, mas tu vais me dizer que cartazes são esses. É propaganda pra vender drogas? Ou tu és cafetão de alguma putinha de menor?
– Não, seu delegado. Longe de mim ser isso.
– E como é que tu faturas, como ganhas teu l’argent?
– O que é esse tal de larjan, delegado.
– Não enrola, rapá. Olha o Alcinão só te abicorando com a palmatória. – Diz logo, porra!
– Eu escrevo os cartaz de papelão pros meus amigo desempregado que ficam pedindo nas esquina do centro da cidade. Cobro dez real. Pode ver, doutor, a caligrafia é a mesma…

O delegado coça a cabeça, respira fundo e fala:

– Ô Alcinão, libera esse artista filho da mãe. Cada um que me aparece…

70 anos de uma mulher sensacional: Maria Penha Tavares gira a roda da vida. Feliz aniversário, tia amada!

Tenho a sorte de ter tido várias mães nestes 45 anos de existência. A Maria Lúcia, minha mais que maravilhosa genitora, de fato. A Peró, minha saudosa avó paterna e minha amada tia Maria Conceição Penha Tavares. Essa terceira, que gira a roda da vida neste vigésimo terceiro dia de fevereiro, chega aos 70 anos de vida com uma linda jornada e eu lhe rendo homenagens, pois ela é uma mulher incrível.

Sabem, amei a tia Maria a minha vida toda e fui correspondido. Ela foi, é e sempre será uma das grandes amigas que tenho na vida. Uma pessoa que sei que posso contar sempre e ela sabe que é recíproco.

Tia foi servidora pública, bancária e é aposentada. Sempre foi empenhada, muito séria, responsável e dedicada em tudo que se propôs a fazer. Uma pessoa que trabalhou muito na vida. Para si e para os seus. Sim, ela sempre ajudou a todos nós. Foram auxílios de todo tipos ao longo das décadas: financeiros, conselhos, apoio, qualquer coisa que estivesse ou esteja ao alcance da Penha, lá está ela, para salvar.

Tia Maria foi a filha mais dedicada de que tenho notícia, pois cuidou de sua mãe até o fim da linda caminhada da vovó. Sempre foi a irmã preferida do Zé Penha, meu pai (que também já virou saudades) e de seus irmãos (Pedro e Paulo).

Ela também foi a filha predileta de seus pais, e Peró e vô João (que também já seguiu para as estrelas). O que é muito justo. Ela sempre foi incrível. Perdi a conta de quantas vezes Maria Penha me socorreu.

Titia é íntegra, honesta, inteligente, batalhadora e decente. Maria sempre foi um dos faróis (assim como mamãe e vovó Peró) na tempestade que sou, sempre foi umas das luzes do meu caminho. Eu e tia raramente discutimos e ficamos chateados um com o outro, mas acontece, É que somos teimosos e geniosos, mas nos amamos demais. Já disse e repito: se um dia eu for pra minha sobrinha Maitê, a metade do tio que ela foi e é pra mim, a missão estará cumprida com sucesso.

Por tudo que é, um mix de mãe, madrinha, amiga, apoiadora, conselheira, parceira, entre outras tantas coisas maravilhosas que essa pessoa sensacional representa pra mim, deixo aqui registrado que sou muito feliz por sua existência orbitar a minha. Ela, mamãe, papai e vovó, forjaram os valores morais que carrego comigo. Quem me conhece sabe do que falo.

Maria, sou tão grato a ti que a palavra “gratidão” não define esse sentimento. É amor mesmo. Sempre foi e sempre será. Tia, que teu novo ciclo seja ainda mais porreta, iluminado, com paz e muita saúde pra você seguir na jornada. Graças a Deus tenho uma sorte dos diabos de você ser quem és e me amar como sou, um velho gordo e louco. Parabéns pelo teu dia. Te amo! Feliz aniversário!

Elton Tavares

Corrida Maluca: um exemplo PARA A VIDA – Crônica de Marcelo Guido

Clássicos nunca morrem, eu costumo dizer. Por muito tempo nos acostumamos a acreditar que o passado passou e não pode ser relembrado. Discordo!

Relembrando fatos da infância, divago por coisas que marcaram para sempre a minha existência. Uma delas, com certeza, são os quadrinhos, dos quais sou fã até hoje, e os desenhos animados (disco de rock, por serem especiais demais, nunca me atrevi a deixá-los de lado).

Tive muitos heróis cujo tempo, covardemente, fez questão de colocar em segundo plano em muitas fases de minha vida. Como pude esquecer, por exemplo, dos GALAXY RANGERS?, CENTURIONS, ZONO RAIDERS?

Mas antes vieram os básicos, minhas lembranças me levam aos primórdios aonde o que interessava mesmo era a diversão. Joseph Barbera e William Hanna eram especialistas nisso.

Os caras se conheceram em 1947 e tomaram um cano do Walt Disney, que prometeu contratá-los e nunca apareceu. Talvez por isso o Mickey seja tão chato.

Dessas duas mentes privilegiadas e brilhantes saíram “Tom & Jerry”, “Zé Colmeia e Catatau”, Fred Flintstone e Barney Ribble, dentre outros.

Em 1968, os caras resolveram se basear em um filme e lançar um desenho com 11 personagens principais, isso sim merece uma menção honrosa; imagina a dificuldade para que nenhum personagem ficasse em segundo plano. E assim nasceu a “Corrida Maluca”.

Inspirado no filme “A Corrida do Século” (1965), a “Corrida Maluca” era uma espécie de campeonato de carros que tinham os mais malucos participantes possíveis.

As corridas eram disputadas por esses caras no melhor estilo “vale-tudo”, e tinha de tudo… Imagine uma corrida com um carro que é um Avião pilotado pelo Barão Vermelho (carro nº 4) no mesmo Grid de largada de híbrido de tanque com carro (carro nº6), comandado por um cara chamado Meekley e com Sargento chamado Bombarda no Canhão? Ou com um cara com um carro de F1 que atente pela alcunha de Peter Perfeito (carro nº 9) (tem uma banda legal com esse nome) – era a formalização do herói perfeito, junto do Carro Mágico (nº 3) do Prof. Aéreo (um cara com feições de cientista maluco, mas que era do bem).

Ainda tinha o “Cupê Mal-assombrado” (nº 2) guiado por Medonho e Medinho, que ainda tinha uma torre (hummm) de onde saía um dragão, uma serpente, etc.; tinha o “Carrinho pra frente” (nº5) da Penélope Charmosa, o “Carro à prova de balas” (nº7), que muitos chamam de “Chicabum” e era comandado pela Quadrilha de Morte, “Serra Móvel” (nº 10) do Rufus o Lenhador, e do Dentes de Serra, a “Carroça a Vapor” (nº7) do Tio Tomás e do urso Chorão.

Todos os carros tinham as placas iniciadas com um “HN” em alusão aos criadores.

O meu preferido era o “Carro de Pedra” (nº 1) dos Irmãos Rocha (nome também de outra boa banda), que, mais tarde, deram origem ao “Capitão Caverna”. Sem contar, é claro, com a “Máquina do Mal” (nº 00) do Dick Vigarista e seu escudeiro Muttley, a Máquina do Mal, aparentemente, era o carro mais rápido e tecnológico dentre os competidores.

Apesar de tecnologicamente superior, o carro nº 00 nunca conseguiu vencer uma corrida. Muito mais pelo caráter duvidoso do seu piloto, que perdia muitas posições com planos mirabolantes e armadilhas para prejudicar os outros competidores.

A Revista “Mundo Estranho”, de julho de 2012, atribui o seguinte ranking:

• 1º Carro de Pedra/Irmãos Rocha – 81 pontos
• 2º Carro-a-prova-de-balas/Quadrilha de Morte – 74 pontos
• 3º Cupê Mal-Assombrado/Irmãos Pavor – 69 pontos
• 4º Carroça á vapor/Tio Tomás e Chorão – 68 pontos
• 5º Carro Tronco/Rufus Lenhador e Dentes-de-serra – 67 pontos
• 6º Carro de Mil e Uma Utilidades/Professor Aérao – 65 pontos
• 7º Carrinho pra Frente/Penélope Charmosa – 64 pontos
• 8º Lata Voadora/Barão Vermelho – 63 pontos
• 9º Carrão Aerodinâmico/Peter Perfeito – 60 pontos
• 10º Carro-tanque/Sargento Bombarda e Soldado Meekley – 39 pontos
• 11º Máquina do Mal/Dick Vigarista e Muttley – 00 pontos.

Essa é a moral da história: por mais que se tenha todo um aparato, você jamais conseguirá vencer se tentar trapacear. Assim é a vida…

Que os infindáveis Dicks Vigaristas continuem se dando mal. Porque, assim como na Corrida Maluca, na vida o bem sempre vence o mal.

Adriano, o Imperador do Povo – Por Marcelo Guido (republicado hoje por ser aniversário do “Didico”)

Por Marcelo Guido

De menino da Vila Cruzeiro, subúrbio do Rio – onde qualquer garoto sonha em um dia ser craque -, abandonar a miséria, extasiar multidões em um Maracanã lotado. Realidade para poucos.

Os Deuses da bola deveriam estar em êxtase quando, no dia 17 de fevereiro de 1982, concederam todo o talento do mundo para Adriano Leite Ribeiro, o Didico.

Alto, forte, rápido deixava em prantos defesas adversárias, a bola sua amiga, era tratada com todo respeito merecido. Ao “matar” caprichosamente a pelota e partir em direção ao gol, era quase a certeza absoluta de alegria para seu povo.

Vestiu as camisas do São Paulo, Corinthians, Parma-ITA, Fiorentina-ITA, Internazionale de Milão-ITA, Roma-ITA, Atlético Paranaense, Miami United-EUA, mas honrou e jogou com o coração mesmo no Flamengo. Ali começou e foi feliz. Didico era o ser rubro negro em vestes totais.

Cria da base, lançado aos profissionais com 18 anos, Adriano não escondia de ninguém seu amor pelo Mengão, a objetividade máxima em procurar balançar as redes o colocou logo no coração da torcida, e a nação rubro negra já sabia que dentro de campo havia um representante seu – suor, garra e vontade não iriam faltar.

Trocado por Vampeta, foi descobrir o Velho Continente. Jogou o que muitos não jogaram a vida inteira. Suas credenciais foram mostradas e ele se tornou Imperador. Em cinco temporadas na terra da bota, vestindo azul e negro, Adriano não ficou um ano sem levantar uma taça; colocou seu nome na história do esquadrão de Giuseppe Meazza.

Formou o Quadrado Mágico na seleção. Muitos acreditavam estar vivenciando o surgimento do sucessor natural do Fenômeno. Calou um time inteiro de Hermanos quando, em uma final de Copa América, acertou um tiraço de esquerda e, aos 48 do segundo tempo, livrou-nos da derrota que já era certa; ali ele foi o craque de todas as torcidas.

Volta para o Brasil, para os braços de sua gente. Para muitos, acabado para o futebol. O menino da Vila Cruzeiro parecia triste; os ares de Milão já não o faziam feliz, muito relacionado ao falecimento de seu Pai, que antes de tudo era seu escudo. Uma boa passagem pelo Tricolor Paulista, 28 jogos, 17 gols.

Mas ele não era paulista; o Morumbi tem seu charme, mas não é o maior do mundo. Reencontrou seu brio perto dos seus, vestiu pela segunda vez o manto rubro-negro e comandou o seu Flamengo rumo ao título nacional, depois de 17 anos; uma campanha de superação, não só do time, mas dele. Didico estava vivo, em riste, calando críticos, sorrindo e sendo campeão.

Volta para Itália, passagem curtíssima pela Roma. Cai nos braços da Fiel Corintiana; o Imperador estava na democracia; outro título nacional, gol importante. A última vitória do time que se sagraria campeão em um zero a zero contra o Palmeiras, uma semana depois.

Entre várias tentativas de voltar ao ápice, todos sabiam que havia lenha para queimar, mas algo já incomodava o menino. Talvez os campos já não lhe enchessem mais os olhos, talvez as glórias já tivessem sido conquistadas; o desafio diário de estar sempre entre os melhores já não lhe caía bem.

O cansaço da rotina já tinha dado as caras para ele e o futebol se despediu de um dos maiores centroavantes que já honraram uma camisa dez.

Foram 207 gols em 429 jogos, por muitos pavilhões e pela seleção brasileira; dezoito títulos profissionais – ninguém que gosta de futebol pode dizer que não foi um vencedor nato.

A volta para seu reduto – ninguém escolhe sua manjedoura, sentimo-nos bem onde somos acolhidos. Talvez Milão tenha seu glamour, com seu vinho, suas belas ruas e mulheres, mas não tem o calor da Vila Cruzeiro.

Onde o Imperador é o simples Didico, situação que enche a boca de seus críticos, e os anos passam e vemos o reflexo da felicidade no seu rosto. Adriano é a prova que podemos viver nossos sonhos e que podemos transformar com talento nossa realidade sem esquecer de quem somos, de onde viemos e para onde podemos voltar com tranquilidade.

Largar o mundo rico do futebol, pela simplicidade da favela não é para qualquer um; é preciso coragem para ser quem você é de verdade. Seja com distribuição de presentes para menores carentes, levando uma lanchonete nunca vista por muitos moradores para dentro da comunidade ou simplesmente andando descalço, sem camisa como seus pares, Didico mostra que sempre foi ele mesmo.

O dinheiro, sucesso mais que merecido por quem batalhou de forma honesta para isso, deu a ele a oportunidade de mudar seu contexto sobre onde viver, mas não lhe tirou o desejo de, em sua essência, procurar a sua felicidade.

Sobre quem achou errada a sua escolha, esse problema não é do Adriano, nem do Imperador muito menos do Didico, esse problema é de Deus; pois então, Ele que perdoe essas pessoas ruins.

Salve Didico, seja você. Realmente é preciso muita coragem para ser feliz.

*Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido. Maridão da Bia.

**republicado hoje por ser aniversário do “Didico”

Bons tempos do “Pai Véio e Pai D’Égua” – Crônica de Elton Tavares (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”) – Republicada por hoje ser o Dia Mundial do Rádio

Ilustração de Ronaldo Rony.

Quando eu era moleque, na Macapá dos anos 80, ia para a escola com meus pais ou na Kombi do “Seu Raimundo”, ao som do programa de rádio “Pai Véio e Pai D’Égua”. O radiofônico contava com os radialistas Osmar Melo, o “Pai Véio”, e Hermínio Gurgel, como “Pai D’Égua”.

O programa tinha um formado diferenciado para a época. Consistia em informação misturada com humor. Os dois apresentadores interagiam de forma espirituosa e irreverente. Eles foram pioneiros do rádio moderno no Amapá, utilizando o improviso com muito equilíbrio.

“Herminio Gurgel, o Pai D’Égua, apresentava o programa ‘Alvorada Sertaneja’, de segunda a sexta-feira, através da Rádio Difusora de Macapá, emissora que já havia contado com seu concurso antes da instalação da televisão em Macapá.

A dupla formada por ele e pelo Osmar Melo fazia a alegria de muitos e causava raiva aos adversários políticos do então governador Annibal Barcellos. Hermínio Gurgel comandava o programa e Osmar Melo fazia as reportagens. Ambos já faleceram, mas deixaram muita saudade” – professor Nilson Montoril.

Foto: Blog Porta Retrato

Não conheci pessoalmente Hermínio Gurgel, falecido em 1994. Já Osmar Melo, que partiu em 2007, era amigo do meu pai, Zé Penha, e do meu tio, Itacimar Simões.

Todos eles já viraram saudades.

E como eram bons aqueles tempos.

É como diz o poeta: “Haja hoje para tanto ontem”.

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

**Republicado hoje por ser Dia Mundial do Rádio.

“Nem tudo é comunicação” . Qual sinal de pontuação você usaria nessa frase? – Crônica de Crisler Samara – @CrislerSamara

Imagem: adobe stock

Olá, me chamo Crisler Samara, ainda tenho 30 e poucos anos e “sou xovém” – Referência: Adenia, a menina do mkt da marca @affthehype.

Sou jornalista e transito na área de comunicação social há 15 anos. Tudo comunica até quando a intenção não seja comunicar”. A questão é: como fazer isso de forma mais assertiva e que possa gerar os resultados que você busca?

Gosto de comunicar e mergulhar nos mais diversos formatos on e off, através do jornalismo, no digital, com a publicidade, e o nosso apaixonante audiovisual. Tive o prazer de atuar como repórter de jornais impressos (e de tv em campanhas políticas), assessoria de imprensa, social media, Atendimento Publicitário. Funções que me fizeram errar, engolir sapos, chorar e pensar em desistir..Mas sim, tive trajetórias de glórias e resultados. Percebi que se temos que engolir sapos, podemos colocar algum tempero para ter um sabor melhor. algumas vezes cresci na marra, outras foi tão leve que quando percebi eu já era outra profissional sem sentir muita dor e muito mais focada em soluções.

Sabe uma coisa bem legal? Nos piores e nos melhores momentos, eu tive pessoas ao meu lado, nossa, como sou grata! No final de todas as minhas experiências, busquei a autorreflexão, acessei caminhos repetidas vezes com mais leveza e criatividade, buscando me cercar de pessoas com o mesmo objetivo e valores, entendi todo o propósito. Hoje estou muito melhor e em constante crescimento.

A Comunicação fez isso comigo… me treinou, me preparou, me fez olhar para dentro enquanto um ser falho buscando ser disciplinado e uma comunicóloga que com as capacidades que desenvolvi e experiências que vivi, percebi, que comunicar está longe de ser nomeado apenas como “passar e receber uma informação”.

No meu ponto (de altos e baixos) de vista, a forma mais assertiva de comunicar é despedaçar o seu conhecimento, espalhar suas técnicas para enxergar quais agregam mais e assim, criar relação com a vida;, é experimentar experiências direta ou indiretamente; é fazer sentir através dos mais diversos conteúdos, seja texto, áudio, um olhar, um sorriso, uma escrita ou o silêncio; é conseguir alcançar a dor, a alegria, a fome, o desejo do outro e nas entrelinhas dizer: VOCÊ NUNCA ESTARÁ SOZINHO. E eu simplesmente amo criar e viver essa conexão, esse é o meu propósito.

Um brinde à vida!

Crisler Samara

Ah, mãe, te amo demais. Feliz aniversário, Maria Lúcia!

Maria Lúcia, minha mais que maravilhosa mãe, gira a roda da vida pela 68ª (com rostinho e astral de quem vive a eterna juventude) vez neste terceiro dia de fevereiro. Sempre escrevo textos de felicitações para meus afetos e amores, mas para mamãe é sempre mais difícil, pois a maior responsabilidade está sempre nos nossos maiores amores… mas vamos lá.

Amo Maria Lúcia, a “Lucinha”, a minha vida toda e esse é um dos exemplos mais perfeitos de amor correspondido. E lá vão mais de 45 anos de amor e dedicação dessa mulher para comigo. Eu tento retribuir, mesmo sabendo que nem sempre consigo, pois vira e mexe ela se aborrece comigo. Sim, nossos gênios fortes colidem às vezes, mas isso é normal em qualquer relacionamento.

Mamãe sempre foi uma mulher exemplar como genitora. Agradeço sempre a Deus a sorte e honra de ser seu filho. Para mim e Emerson, meu irmão, Lucinha sempre deu tudo que há de melhor nela. É difícil contar toda essa história em um só texto de aniversário.

Já disse e repito, juntamente com a tia Inês, Maria Lúcia é a filha mais dedicada da vovó Cacilda, vó coruja e amorosa da pequena Maitê e boa esposa do Enilton, amiga fiel e parceira de quem tem a sorte de ter sua amizade.

Difícil contabilizar tudo que ela já fez por mim e pelo meu irmão. Aliás, muito mais por mim, seu filho mais velho. A nossa “Lucinha” é uma mulher espetacular e admirável. Ela personifica os amores que tem e realmente faz valer seus dias por cada um de nós.

Orientadora educacional e professora aposentada, mamãe trabalhou muito, desde bem novinha, para vencer na vida. Ela conseguiu e batalhou muito para dar o melhor para seus filhos, sua mãe e seus irmãos.

Mamãe é íntegra, honesta, inteligente, batalhadora e decente. Lucinha sempre foi a luz do meu caminho e o amor que sempre zelou por mim. Ah, ela tem a reza mais forte que conheço e quando tenho problemas, peço suas orações. Sempre sinto que sua oração e bênção são mágicas poderosas e me protegem.

Dela, herdamos atitude e firmeza. Eu e Emerson talvez não fôssemos trabalhadores e todo o resto de coisas legais que nos tornamos, se não fosse por conta da Lucinha. Ela é meu anjo da guarda, minha conselheira e benzedeira, inteligente e sábia. Além de melhor cozinheira do mundo. Ela sempre foi e sempre será minha melhor amiga.

Gosto de tudo na mamãe. Das coisas belas e das “rudes” também. Nos aceitamos como somos e nos respeitamos um ao outro. Se tem uma coisa de que me orgulho nessa vida, é de ser filho dela

Mãe, que Deus continue a lhe dar saúde, que a senhora siga com essa sabedoria, sexto sentido e alegria (e brabezas) que lhe são peculiares. Que tua vida seja longa, que essa data se repita por pelo menos mais umas 68 vezes infinitas, porque a vida é seguramente mais bonita e feliz porque eu tenho o seu amor.

Aprendi desde cedo que a vida é muito curta para não dizermos a quem amamos que os amamos. Te amo, Lucinha. E com toda a força que existe aqui. E boto fé que o Emerson também.

Parabéns pelo teu dia. Feliz aniversário!

Elton Tavares e Emerson Tavares (pois como irmão mais velho, posso falar pelo Merson).

Hoje é o Dia da Saudade – Minha crônica sobre a data nostálgica

Hoje, 30 de janeiro, é “comemorado” o Dia da Saudade. Não encontrei o porquê de hoje ser destinado à falta de alguém ou um lugar. Só sei que todo dia é dia de sentir saudade. O conceito diz: “Saudade: Substantivo feminino – Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia”.

De origem latina, saudade é uma transformação da palavra solidão, que na língua escreve-se “solitatem”. Com o passar dos anos, assim como outras palavras se transformam de acordo com as variações da pronúncia, solitatem passou a ser solidade, depois soldade e, finalmente, saudade. Palavra que só existe na língua portuguesa.

Bom, eu sou um cara saudoso de tanta coisa. Sinto saudades absurdas do meu pai. Grande saudade do meu avô paterno, de alguns parentes e amigos que partiram para outra vida (ou plano, como quiserem) como meu tio Itacimar (Ita).

Tenho saudade diárias do meu irmão, que reside em Belém (PA) e amigos que moram longe. Também sinto falta de todos aqueles que marcaram minha história positivamente e hoje em dia não fazem mais parte da minha vida.

O escritor Charles Baudelaire disse: “Aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno”.

Quem dera ser tão simples. Já o poeta Paulo Leminski frisou “Haja hoje para tanto ontem”. Só que o Raul Seixas, o mais maluco dos compositores, foi mais enfático ainda ao dizer: “A saudade é um parafuso que, quando a rosca cai só entra se for torcendo, porque batendo não vai,mas quando enferruja dentro, nem distorcendo não sai”. Perfeito!

Sinto saudade da minha infância, da falta de responsabilidade e dos dengos da minha avó Peró. Saudade dos tempos do Colégio Amapaense, das memoráveis festas de rock, amanhecidas, dos bons tempos com ex amigos, da velha equipe de comunicação e até das boas brigas. É, a gente botava pra quebrar!

Sinto saudades do jornalista e amigo querido Tãgaha Luz, que nos deixou e seguiu para a redação celestial. Que saudades desse cara!

A maior saudade é da Perolina Penha Tavares, nossa linda e cheiros matriarca. Pois as saudades do papai, vovô, tio e amigos que já partiram estão calejadas pelos anos. A falta da Peró ainda não, mas com o tempo será amenizada. O amor por essas pessoas nunca passará, assim como as saudades, mas o tempo melhora o sofrimento do coração;

Deus, graças a ele, sobrevivi aos anos 90. Era tudo tão surreal, tão perfeito, tão legal, doce ilusão. Saudades daqueles anos vividos intensamente! Sinto saudades até de ter saudades de alguns que foram tão importantes e agora não passam de mais um rosto na multidão.

Sinto saudades de tanta coisa. Mas, como tudo na vida, há saudades justificáveis.

Também sinto saudades da época que era inocente, que não era tão duro, tão egoísta, tão cético e cínico. A saudade é alimentada pelas ternas lembranças guardadas na memória e no coração. E é tanta coisa que nem dá pra listar aqui. Isso acontece todos os dias e não somente hoje.

Li em algum lugar que, se sentimos saudades, é porque valeu a pena. Vida que segue. E graças a Deus, segue feliz, mesmo com minhas saudades. É isso!

Elton Tavares

“O MEU VELHO, VINHO!” – De Bruno Cavalcante para Armando Cavalcante

Por Bruno Cavalcante

De fato, ninguém é feliz sozinho.

Olhando pelo prisma da garrafa, sempre temos um amor, um amigo, uma taça de vinho.

Olhando o velho Chico a experimentar chapéus, músicas e sensações diversas, percebo, que, estas, despertam no meu velho pai o sabor do aprazimento de uma noite cultural.

A melodiosa canção, suave, como um merlot que se confunde com cabernet, seu gosto, o do meu pai, balanceado e suave, adoça, a esperança do olfato outrora abalada.

O sentido que me permite apreciar e, que me apetece o coração é quando se mira no semblante fagueiro dele.

-Vejam, olhem para mim, vocês são os meus, estou bem, vivo e álacre. Guardado por minha santa, sinto-me ledo e exultante.

Bruno e Armando. Queridos amigos deste editor. Foto: arquivo familiar de Bruno.

Como é bom te apreciar assim, velho vinho, uma safra de casta de uva tinta, garantindo rótulos de longevidade, harmonizando com a carne e a boa alma.

Que assim seja, até o último sorvo, que os sentidos se façam sempre presentes e as noites atuais com as lembranças do futuro.

*De Bruno Cavalcante para seu pai, Armando Cavalcante. Dois velhos e queridos amigos deste editor. 

Bairro do Trem, o MEU SETOR e o carnaval – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Atualmente moro, novamente, no bairro do Trem, meu berço, pois a minha avó, dona Amélia, costureira de mão cheia e conhecedora do poder de cura das plantas, óleos e unguentos, veio pra cá junto com o meu avô, Seu Miranda, quando ainda era tudo mato e a linda orla do Santa Inês ainda era a Vacaria.

Quando paro pra pensar na evolução do meu setor, lembro que a minha mãe, Dona Dalva, sempre atuante em sua função social, me levava uma vez por semana pra Vacaria, onde ela alfabetizava voluntariamente adultos através do método Paulo Freire, e eu, criança, não entendia o tamanho do gesto dela, só queria saber de chegar lá, passando pelas pontes, pra ver a cotia de estimação da família que cedia a casa para o feito da mamãe. Quem olha hoje essa orla tão linda, com seus restaurantes maravilhosos, não imagina como tudo mudou tão rápido, pelo menos pra mim.

Quando olho para meus vizinhos, da mesma geração que eu, lembro de como esperávamos ansiosos várias datas, em especial o carnaval por vários motivos:

Piratas da Batucada, Piratão, dono do meu coração até hoje. Cresci vendo minha família vibrando, torcendo, saindo na escola, participando dos eventos para angariar fundos e dos ensaios, ora na antiga sede dos escoteiros, ora na sede do Trem, e CLARO, xingando e brigando na apuração, pois todos queríamos, mais uma vez campeões, participar do desfile da vitória, sempre com o dia amanhecendo que eu achava lindo. Tenho uma tia maravilhosa que durante muitos anos comprava uma ala inteira pra família sair de tão apaixonada. Somos todos Piratas da Batucada apaixonados até hoje.

Futebol a fantasia na Praça Nossa Senhora da Conceição, onde os Solteiros e Casados viravam Dondocas e Bonecas, fazendo a festa desde um tempo não tão politicamente correto, mas que nas minhas lembranças vem carregado de alegria, cor, graça e pureza, com os jogadores vestidos de mulher e até ao jogar tentado ser delicados e finos. Alguns eram mais arrojados, outros mais simples, mas todos carregavam seu brilho e arrancavam gargalhadas de todos, em especial na narração do jogo, que enchia de mais adereços o que culminava no desfile para escolher a mais bela do jogo, e eu, geralmente sentada nos ombros de algum tio assistia a tudo gargalhando.

Baile Rainha das Rainhas do Carnaval na sede do Trem Desportivo Clube, de onde deriva o nome do bairro, que nas minhas lembranças de infância parecia tão grandioso e imponente, e que ainda resiste na esquina da rua General Rondom com a Av. Feliciano Coelho. Disputadíssimo como todo concurso de misses, com as torcidas organizadas e a tradicional revolta por causa do resultado, sempre acabando em confusão, gritos e xingamentos, mas que sempre se resolvia e a festa prosseguia. Eram outros tempos. Se fosse hoje, acho que terminaria na justiça. Eu nunca fui num, mas no outro dia acompanhava os babados através da mamãe, tias, tios, primos e primas. Eu ia no das crianças, quando se vestir de índio ainda não era apropriação cultural (faz tempo, mas abafa o caso!).

Maksuel Martins

E ver A Banda passar tocando coisas de amor com suas marchinhas tradicionais aqui pelo meu setor era e é uma festa também aguardada, com os vizinhos organizando suas fantasias, blocos, mini trios, encontrar os conhecidos, apreciar a criatividade e graça ao lado da família e amigos e depois ir pra casa feliz, comentando que tal fantasia foi a melhor, mas que o bloquinho tal também estava lindo. Mesmo quando não estava morando aqui no Trem, assistir A Banda com os meus aqui sempre foi preferência.

Bairro do Trem, meu Carnaval, vizinhos que ainda estão aqui e que mesmo não sendo mais as crianças que éramos, sonhamos ainda com o Carnaval que vivenciamos e com os que ainda virão, mesmo estando quarentões e cinquentões, mas como o cinquenta é o novo trinta, tenho fé que ainda veremos não apenas A Banda passar aqui pela Feliciano, mas essa pandemia também. Amém.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.