Monólogo Mundo Moderno – Texto genial e saudoso Chico Anysio

E vamos falar do mundo, mundo moderno marco malévolo mesclando mentiras modificando maneiras mascarando maracutaias majestoso manicômio meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres miscigenação morticínio, maior maldade mundial madrugada, matuto magro, macrocéfalo mastiga média morna monta matumbo malhado munindo machado, martelo mochila murcha margeia mata maior manhazinha move moinho moendo macaxeira mandioca meio-dia mata marreco manjar melhorzinho meia-noite mima mulherzinha mimosa maria morena momento maravilha motivação mútua mas monocórdia mesmice muitos migram mastilentos maltrapilhos morarão modestamente malocas metropolitanas mocambos miseráveis menos moral menos mantimentos mais menosprezo metade morre mundo maligno misturando mendigos maltratados menores metralhados militares mandões meretrizes marafonas mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente modestas moças maculadas mercenárias mulheres marcadas mundo medíocre milionários montam mansões magníficas melhor mármore mobília mirabolante máxima megalomania mordomo, mercedez, motorista, mãos magnatas manobrando milhões mas maioria morre minguando! moradia meiágua, menos, marquise mundo maluco máquina mortífera mundo moderno melhore melhore mais melhore muito melhore mesmo merecemos maldito mundo moderno mundinho merda!

Chico Anysio

Mazagão velho, a cidade que atravessou o oceano, completa 251 anos – Por Elton Tavares

Mazagão Velho – Foto: Gabriel Penha.

Mazagão Velho completa 251 anos de fundação neste sábado, 23 de janeiro. A minha família paterna veio do Mazagão, não do Velho, mas do “Novo” (que não tem nada de novo). Bom, vou falar um pouco da cidade e depois da relação do local com o meu povo.

Ruínas de uma igreja construída no século XVIII – Foto: Hélida Penafort

O município de Mazagão tem uma história peculiar, rica em detalhes sobre o Amapá. Mazagão foi fundada porque o comerciante Francisco de Mello pretendia continuar com o comércio clandestino de escravos, mas pressionado pelo governador Ataíde Teive, resolveu cooperar, fornecendo índios para os serviços de construção da Fortaleza de São José, na capital do Amapá, Macapá.

Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior

Em retribuição, foi anistiado e agraciado com o título de capitão e diretor do povoado de Santana; mas, por conta de uma epidemia de febre, que acometeu os silvícolas, foi transferido para a foz do Rio Manacapuru, e, pelo mesmo motivo em 1769, para a foz do Rio Mutuacá.

Antigo cemitério de Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior

Em 10 de março de 1769, D. José I, Rei de Portugal (POR), desativou a cidadela de Mazagão, na então colônia do Marrocos (MAR); eram 340 famílias sitiadas pelos mouros. Elas foram transferidas para Belém (PA). Para alojar estes colonos, o governador mandou construir um povoado às margens do Rio Mutuacá. Em 7 de julho de 1770, começaram a ser transferidas 136 famílias para a Nova Mazagão, hoje cidade de Mazagão Velho, como já se denominava o lugar, pois desde o dia 23 de janeiro de 1770, havia sido elevado à categoria de Vila.

Prefeitura de Mazagão – Foto: Elton Tavares

Na verdade, meu saudoso avô paterno, João Espíndola Tavares, nasceu na região do alto Maracá, no Sítio Bom Jesus – localidade de difícil acesso. Para se chegar ao local, as embarcações precisavam passar por muitas cachoeiras do município de Mazagão. E minha santa vó, Perolina Tavares, bisneta do senador do Grão Pará, Manoel Valente Flexa (que foi manda-chuva em Mazagão, no tempo em que lamparina dava choque), também nasceu naquelas bandas. Ah, meu vô foi prefeito do Mazagão (preso pelo golpe de 1964, a então “revolução”).

Acervo familiar.

Lá eles namoraram, casaram e constituíram família. Meu pai, Zé Penha e meus tios Maria e Pedro, nasceram no Mazagão. Os filhos mais novos do casal, Socorro e Paulo, nasceram em Macapá, onde minha família paterna é uma das pioneiras. Meu vô partiu em 1996 e meu pai depois dele, em 1998. Mas a família Tavares preserva a dignidade, o respeito e a amizade – fundamentais para a vida – aprendidos no Mazagão e trazidos para a capital amapaense.

Eu, com vó e vô. Gratidão! – Mazagão (AP) – 1978

Quando criança, fui ao Mazagão, mas não tenho essas lembranças na cachola. Retornei ao município em 2009, quando meu avô foi homenageado na Loja Maçônica da cidade, por ter sido um de seus fundadores. Depois em 2010, a trabalho, para cobrir a Inauguração da Ponte sobre o rio Vila Nova, na divisa da cidade com a vizinha Santana. E depois, em 2012, para a cobertura do aniversário de fundação da antiga vila (há exatos nove anos).

É, minha família paterna veio do Mazagão (na década de 50). De lá trouxe uma nobreza que admiro e muito me orgulho. Não sei explicar a sensação de ir lá, mas a senti todas as vezes. Parece um lugar em que já estive há muito, muito tempo. Quem sabe noutra passagem por aqui. Do que tenho certeza, é que tais raízes nos deram muita cultura, histórias legais e respeito às tradições. Meus parabéns, Mazagão!

Elton Tavares


*Este texto, atualizado para hoje, é parte da monografia que escrevi para o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Comunicação. E também é um entre os 60 do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado no último dia 18 de setembro. Ah, A obra tá linda e está à venda na Public Livraria ao preço de R$ 30,00 ou comigo, Elton Tavares (96-99147-4038).

Ainda sobre Mazagão Velho, assistam os o trailer do documentário “Mazagão – PORTA DO MAR” e a reportagem do programa “Repórter da Amazônia | Mazagão”:

Viver e respirar – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Foi o que pensou Neurinha, adentrando os 19 anos e achando que, naquela idade, seria bom começar a pensar nessas coisas. Seria bom pensar em alguma coisa. Qualquer coisa.

Mas o pensamento mais louco mesmo ela teve depois:

– Será que consigo morrer SEM parar de respirar?

Seu cachorro respondeu que não, ao que o ursinho de pelúcia disse que sim:

– Viver e respirar são coisas completamente díspares, conflitantes. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tenho dito!

O cachorro de Neurinha ponderou que aquela maneira de falar do ursinho de pelúcia deixaria Neurinha ainda mais sem entender nada.

Neurinha, por sua vez, continuou sem nada entender. Paciência. Era sua natureza. Não entender qualquer coisa era a única coisa ao alcance de qualquer coisa que Neurinha pudesse entender. Entendeu? Nem eu!

Neurinha procurou os sábios conselhos de seu antílope de estimação, Clodoaldo, que entendia muito bem dessas questões, quando não estava ocupado em beber, fumar e levar mulheres para o apartamento.

Clodoaldo passou a contar a história de um tatu que fez greve de respiração em protesto contra a proliferação de armas nucleares e morreu em poucos minutos, ainda a tempo de ordenar a seus seguidores que invadissem a Casa Branca e incendiassem a provisão de amendoim.

Claro que Neurinha não entendeu e parou de se questionar. Resolveu passar à ação e cometer o ato de parar de respirar.

Segundo o método dos ninjas, Neurinha girou o nariz como se fosse uma torneira e parou de respirar.

Você, caríssimo leitor, já sacou que Neurinha era bem tontinha. Pois é. Até hoje ela não sabe se morreu.

Homenagem do artista plástico Dekko Matos a Fernando Canto

O talentoso e renomado artista plástico Manoel Francisco Pessoa de Matos, popularmente conhecido como Dekko Matos, é conhecido por suas pinceladas e desenhos fantásticos, mas também por performances que sempre são acompanhadas de boa trilha sonora, além de suas participações em diversos eventos culturais.

Desta vez, Dekko Matos, homenageou o músico, compositor, poeta, escritor e sociólogo Fernando Canto, com um fantástico retrato. A obra foi pintada ao som da música “Quando o pau quebrar“, composição do homenageado e icônica canção do Grupo Pilão, pioneiro da música amapaense.

Assista aqui a homenagem porreta:

Sobre Fernando Canto

Fernando Pimentel Canto é compositor, cantor, músico, jornalista, sociólogo, professor Doutor, poeta, contador de histórias, causos e estórias, contista e cronista brilhante, apreciador e incentivador de arte, sociólogo, imortal da Academia Amapaense de Letras, ícone da cultura amapaense, escritor “imparável”, boemista, amante do carnaval, embaixador do Laguinho, mocambo, membro fundador do Grupo Pilão e servidor da Universidade Federal do Amapá.

Ilustração de Ronaldo Rony para meu livro“Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, prefaciado por Fernando Canto.

Com 17 livros publicados (de crônicas, poesia e contos) ; composições suas e outras com grandes nomes da música amapaense; ensaios teatrais, entre outras incontáveis contribuições para a cultura e resgate histórico do Amapá, além de cargos importantes ao longo de sua carreira, Canto é um ardoroso partidário da causa cultural tucuju. Nascido na cidade de Óbidos (PA), ele é o “Cidadão Amapaense” mais amapaense que a maioria dos que aqui nasceram. E por tudo isso e muito mais, toda homenagem a ele ainda é pouco. Valeu, Dekko!

Dekko Matos – Foto: arquivo pessoal do artista.

Sobre Dekko Matos

O artista Dekko Matos é amapaense e nasceu no ano de 1966. com apenas 11 (onze) anos de idade iniciou como desenhista serigráfico em uma empresa local. No período entre os anos de 1996 a 2011, lecionou pintura, desenho e escultura na Escola de Artes Cândido Portinari.

No ano de 1999 criou e coordenou a I Bienal de Arte Natural do Amapá. Entre seus trabalhos de maior destaque estão o Painel Cooperação Transfonteiriça Amapá-Guiana Francesa, localizado na parede externa do teatro das Bacabeiras, o I monumento brasileiro na Guiana Francesa, o mosaico no Meio do Mundo Macapá no Centro de Cultura Franco-Amapaense e o Totem das Etnias no Museu Sacaca.

Como ativista cultural, desempenhou suas funções como diretor no Centro Amilar Brenha, foi Conselheiro de Cultura do Estado do Amapá, diretor do Teatro das Bacabeiras e diretor do Museu de Etnologia do Estado do Amapá.

Hoje em dia, Dekko Matos integra o Grupo Urucum, com outros geniais artistas.

Elton Tavares, com informações da Fumcult

Resenha do livro “QUARUP” – Antonio Callado. (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

Ainda criança em um bairro do subúrbio paraense, eu ficava intrigada com um documento que se estampava na TV a cada programação. Para mim, era algo que não permanecia sob minha vista tempo bastante para que meus olhos recém-alfabetizados tivessem tempo de ler e entender. Hoje eu sei que tratava-se de censura; mais uma das liberdades suprimidas pelo regime da época. Eu estou na casa dos quarenta e, mesmo assim, lembranças – que para alguns parecem tão efêmeras – voltaram a mim através de Quarup.

O livro se inicia na década de 50 e conta a estória de Nando, um jovem padre pernambucano que sonha em dar continuidade ao trabalho dos jesuítas no Xingu, mas não apenas pela catequização e sim por acreditar na pureza indígena e que deles é proveniente a essência do Brasil. E Nando embarca para o Xingu banhado deste sonho. Mas não antes de se deparar com temores carnais que são da essência do homem, potencializados em Nando pelo sacerdócio.

Chegando ao Xingu, Nando se vê em uma realidade longe da teoria que conhecia e através de Fontoura – um funcionário do SPI (Serviço de proteção ao índio) que conhece e vive com a alma entre eles – reformula e esclarece sua visão a respeito daquele povo, seus costumes, sua nudez desprovida de malícias, a simbologia que carrega o uluri, a tanga que cobre as índias e só por elas podem ser retiradas para que alguma coisa aconteça. O índio não ousa tocá-lo. Se uma índia joga seu uluri pra cima o índio se esquiva, pois só a índia detém o poder de seu manuseio. E muita gente achando que civilizado mesmo é o homem branco.

Existe ainda uma comitiva que embarca para o Xingu; entre eles existem outras personagens que mostram em seus diálogos, variadas visões de mundo. Ainda no Xingu, Nando se depara com os entraves burocráticos e políticos que são ainda mais inviabilizados pela corrupção. Em meio a tudo isso, a influência dos acontecimentos políticos da época, como a morte de Getúlio Vargas, que refletiria diretamente na expedição. Nando ainda tem a difícil tarefa de guardar para si o amor por Francisca, noiva do idealista Levindo.

Ao retornar do Xingu, Nando deixa o sacerdócio e posteriormente a ditadura militar se instala no país. Nando deixa de ser padre, mas o coração de sacerdote continua com ele, mesmo já tendo abandonado a liturgia e conhecendo prazeres do sexo e das drogas, ele preserva em si a caridade e o olhar para a dor do outro. As dores não só dos índios que morriam doentes e de fome, mas dos camponeses explorados, das feias, das prostitutas.

Nando faz uma peregrinação dentro de si mesmo. E cada personagem do livro lhe abre um caminho para vislumbrar, como Lídia, que lhe relata que Otávio, seu noivo, teria criado uma única rixa com Lênin, após ler Clara Zetkin, onde Lênin não teria aceitado a teoria do copo d’água. Outras personagens com graciosidade e força expõem suas personalidades em diálogos que trabalham todas as mudanças que se operam em Nando.

Quarup é um ritual indígena de Mawutzinin, o primeiro homem do mundo na cultura indígena. E seu Quarup é o ritual que leva os mortos para uma outra vida. E assim como os índios se encaminham para uma nova vida, Nando também tem seu Quarup.

Esta é uma obra-prima que saiu das mãos, mente, coração e sangue de Callado. Você se depara com o Brasil de uma forma genuína. Os índios, o Nordeste da década de 50/60, a história política e os horrores nos porões da ditadura. É um livro que desperta uma trilha sonora em sua cabeça. Você pode ouvir Belchior cantando ao fim de cada página. E creio que nada que escrevi fará elogios que bastem a esta obra. Pois é uma obra densa e com personagens que com tristeza deixei de mencionar para evitar spoiller. Ontem à noite, ao fechar a última página do livro e ainda olhando para o número 573, lembrei de a quantas andam nossas mazelas diárias nestas terras onde cantam os sabiás que de nada sabem, e pensei: Que nosso Quarup nos levem a tribos mais gentis.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

Impeachment– Uma piada constitucionalmente prevista – Por Mariana Distéfano Ribeiro

Por Mariana Distéfano Ribeiro

Passeando pelos stories do Facebook eu vejo muitos comentários sobre a atuação do Presidente Bolsonaro no exercício da função. Me espanta a quantidade de pessoas que é conivente com o comportamento e entende que, por exemplo, é direito dele não querer tomar a vacina, não aceitar usar máscara, ser grosseiro e “mitar” com os jornalistas, fazer apologia à tortura, à ditadura, à homofobia, entre tantas outras tosquices que esse ser humano fez (e ainda faz).

Pois eu digo com toda certeza e convicção que Bolsonaro, na qualidade de Presidente da República Federativa do Brasil, não tem o direito de agir como ele age, de falar o que fala e pregar o que ele prega!

Por que não? Porque ele é o Presidente, oras! É dever dele, obrigação intrínseca e necessária da função que exerce possuir o mínimo de bom senso, de cautela, de educação, de prudência na direção de qualquer país em que impere o estado democrático de direito.

A falta de educação recorrente do dirigente de um país, a imprudência no enfrentamento e no trato de questões e situações delicadas, que possuem um potencial significativo de inflamar ânimos e incentivar radicalistas contumazes a sair da esfera das ofensas verbais e virtuais para as ofensas físicas, especialmente aqueles preconceituosos, tende a causar comoções sociais graves e violentas. Foi exatamente isso que aconteceu na invasão ao prédio do Capitólio, sede do Congresso americano, no dia 06/01/2020, quando o ex-presidente Trump resolveu insistir, mais uma vez, na invenção de que as eleições estadunidenses foram fraudulentas e que, na verdade, ele teria vencido. E Bolsonaro ainda disse que se não tiver voto impresso nas próximas eleições (2022), vai acontecer o mesmo com o Brasil.

Os presidentes Trump e Bolsonaro em encontro em março de 2020, na Flórida.TOM BRENNER / REUTERS

Lá, nos Estados Unidos, o ex-presidente Trump já está indo embora. Mas aqui a gente ainda tem mais 2 anos de desgoverno Bolsonaro.

Certo. A gente concorda que o Bolsonaro está fazendo quase tudo como se fosse uma criança da 5ª série (aliás, ele até fala como uma… uma bem malcriada…). Então, deve ter alguma alternativa pra tirar ele da Presidência.

Pois tem. Essa alternativa é o processo de impeachment por crime de responsabilidade e tem previsão no art. 85 da Constituição Federal , com regulamentação pela Lei nº 1.079 de 10/04/1950 , e também por crime comum (como homicídio) como prevê o art. 86 também da CF.

Trata-se de um processo político, administrativo e não-judicial. Até a última atualização do dia 08/01/2021, haviam 53 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

Acontece que o pedido tem que cumprir alguns requisitos, como indicação de provas e de testemunhas. O que não é muito difícil, dada a ausência de preparo e de discrição do nosso Presidente. A Lei nº 1.079 ainda descreve quais são os casos em que os atos do Presidente serão crime de responsabilidade.

Um dos artigos da Lei diz que é crime de responsabilidade quando Presidente atenta contra o livre exercício dos poderes da União (Legislativo e Judiciário, porque ele mesmo é o Executivo).

Atentar contra é se manifestar contra, injuriar, maldizer, impedir a atuação por meio de algum recurso que é inerente à atuação da Presidência.

Então… lembram daquela manifestação, lá em Brasília, que um monte de gente foi pra frente do Supremo Tribunal Federal (STF) pedir o impeachment (é existe impeachment pra maioria dos cargos políticos e de estado) de um dos Ministros e o fechamento do Poder Judiciário e do Legislativo? Aquela manifestação em que o Bolsonaro foi montado a cavalo?

Lembrou? É, aquilo lá foi crime de responsabilidade.

Esse é um dos exemplos que eu considero mais gritantes e significativos da afronta ao estado democrático de direito que o atual dirigente do Brasil cometeu até hoje.

Muitos outros foram e ainda são cometidos como o incentivo ao uso de armas de fogo, a recusa em cumprir as determinações de medidas sanitárias federais, estaduais e municipais de combate ao coronavírus, as constantes apologias à tortura, à homofobia, à misoginia, à ditadura. Todos esses atos incentivam o extremismo de pessoas preconceituosas e os encorajam a mostrar a cara e manifestar suas opiniões em discursos de ódio.

Ok. Mas então por que o processo não vai pra frente se o Presidente já cometeu tantos crimes de responsabilidade?

Porque é um processo político. O Presidente da Câmara dos Deputados tem que deferir, aceitar e concordar expressamente com o pedido e encaminhar para uma comissão especial de Deputados. Essa comissão é que vai decidir se o processo vai pra frente ou não.

Ainda, depois que o processo passa pela anuência do Presidente da Câmara, o Presidente da República ainda tem prazo para apresentar sua defesa, a Comissão tem um prazo para fazer um parecer que ainda precisa passar pelo crivo de 2/3 dos 514 Deputados Federais, ou seja, 342 Deputados.

Agora, com a popularidade que o Bolsonaro tem até hoje , você acha mesmo que um Deputado vai aceitar um processo de impeachment contra o Presidente? É claro que não vai.

Por isso que o processo de impeachment é um processo tipicamente político. Fosse jurídico, o Presidente da Câmara dos Deputados não teria outra alternativa a não ser a de receber e aceitar todo pedido de impeachment que tivesse todos os requisitos da Lei nº 1.079 comprovadamente elencados no processo.

Fazendo uma analogia bem descompromissada, imagine que chegasse no Poder Judiciário, lá no fórum da sua cidade, numa vara criminal, uma denúncia de alguém que supostamente cometeu um crime qualquer, com todos os requisitos previstos na lei para aceitação da denúncia – inquérito, peça do Ministério Público. Aí o Juiz olha pra denúncia e diz: ah… esse cara aqui é meu amigo, ele é muito conhecido na cidade e todo mundo gosta dele… não vou aceitar essa denúncia não. E simplesmente arquiva o processo ou deixa na gaveta.

Já pensou?! Absurdo, não é?

Pois é… o processo de impeachment é mais ou menos assim. O cara comete o crime previsto em lei, mas é amigo dos reis e todo mundo gosta dele. Mas se ele for impopular, vai cair rapidinho. Seria cômico se não fosse trágico.

É, o processo de impeachment, com o rito previsto na atual legislação, é uma piada constitucionalmente prevista.

Fontes: BBC, El País, Jornal do Brasil, Planalto, Planalto, A Pública e Ibope Inteligência

*Além de feminista com orgulho, Mariana Distéfano Ribeiro é bacharel em Direito, servidora do Ministério Público do Amapá e adora tudo e todos que carreguem consigo o brilho de uma vibe positiva.

Não sejamos nós os vândalos da nossa cultura – Por Jaci Rocha

Foto: PMM

Por Jaci Rocha

Não defendo intolerância. Nem religiosa, nem cultural. Aliás, nenhum de nós. Não é mesmo? (Tsc, tsc). Então por que será o óbvio precisa ser dito?

Não acho certo que a postura agressiva de uma opinião de uma pessoa evangélica seja motivo para hostilizar a religião evangélica (como presenciei em algumas postagens). Assim como não acho certo o modo como uma única pessoa, de religião evangélica, se referiu à uma estátua em praça pública, em homenagem à tia Chiquinha – uma das grandes rainhas de nossa tradição marabaixeira.

Foto: Blog da Alcinéa

Infelizmente, seguimos vândalos de nossa cultura. A lista só aumenta. Na mesma quinzena em que riscaram a estátua em homenagem do professor Munhoz e foi criada uma suposta ‘briga’ por apropriação cultural Pará x Amapá, um ataque à estátua da tia Chiquinha indignou nossos corações.

Onde isso tudo se relaciona?

Na nossa falta de convivência republicada, que nos torna vândalos da já tão sofrida cidadania.

Sobre a ‘dita’ questão do momento: A praça foi nomeada em homenagem a alguém evangélico? No que a presença de uma estátua da da linda tia Chiquinha – certamente um pedaço de Deus na nossa cidade – desrespeitaria a homenagem anterior? Havia algo realmente a ser dito? Claro que não!

Foto: PMM

Assim como Amapá e Pará nunca poderiam ser inimigos e professor Munhoz segue herói para nossa história e literatura.

Isso só reflete como a gente precisa aprender a se amar, não é? A abraçar nossa história. A conviver com afeição, respeito, reconhecimento e memória!

O que assusta é que o óbvio precisa de ser defendido…isso realmente assusta. Por outro lado, reitero: não foram os evangélicos ou a religião evangélica. Foi “uma” pessoa. É preciso discernir.

“O que eu faço na vida ecoa na eternidade”

Sim, nós não toleramos racismo e intolerância. Também não estendemos a ninguém uma (muito infeliz) posição individualmente declarada.Não sejamos nós os vândalos da nossa própria cultura.

Que a gente abrace nosso Amapá, nossos heróis, nossa própria e multidiversificada identidade e beleza.

*Jaci Rocha é poeta e advogada.

Obrigado, Macapá! (vídeo lindão da PMM).

No final de 2012, fui convidado para sair do Governo do Amapá (UFA!) e compor a equipe de comunicação da Prefeitura de Macapá na então nova gestão. Fui assessor de comunicação do prefeito Clécio, no início do primeiro mandato.

Trampo com o Clécio, no início de 2013. Foto da Márcia do Carmo, que era a fotógrafa que cobria as pautas do prefeito comigo.

Na época, o slogan era “Governo da Reconstrução”. E era mesmo. Lembro que redigi a matéria dos 100 dias da administração. Foi muito trampo. Saí da Prefeitura por ter recebido uma proposta melhor do TRE/AP, mas nunca deixei de informar as ações dessa gestão, que aliás, melhorou muito a nossa cidade.

Torço para o sucesso da administração que se inicia, pilotada o Dr. Furlan e parabenizo o amigo Clécio e todos os envolvidos para que Macapá seja a cidade que é hoje, longe do ideal, mas muito melhor que antes da gestão que se encerra. Valeu, mesmo!

A oportunidade é como ferro: devemos batê-lo enquanto estiver quente.” – José Saramago.

Elton Tavares

2020: Temos o que comemorar? – Crônica de Silvio Neto

Imagem: placevale73.tumblr.com

Crônica de Silvio Neto

O ano de 2020 foi um ano bissexto, quer dizer, a cada quatro anos, temos um dia a mais no calendário, mais precisamente o dia 29 de fevereiro. Mas, calma! Geralmente é só isso que se repete a cada ano bissexto.

Segundo o horóscopo chinês, 2020 foi o ano do Rato, começando a 25 de janeiro. Na mitologia chinesa, o rato representa a criatividade; a solução de problemas; a imaginação; o trabalho hiperativo e respeitado por sua capacidade em resolver situações difíceis; a intuição, com a capacidade de adquirir e preservar coisas e valores… E, curiosamente, nunca precisamos tanto destas qualidades nos últimos cem anos, para conseguirmos superar como pudemos, este ano de 2020.

O sol entrou em Aquário a 20 de janeiro inaugurando, segundo alguns uma Nova Era que vinha sendo esperada desde os anos de 1960, quando, na letra de uma das músicas daquele inesquecível musical da Broadway, Hair, a Lua estaria na Sétima Casa e Júpiter, alinhado com Marte, guiaria os planetas à Paz e o Amor comandaria as estrelas… Tudo muito lindo, mas infelizmente… muito fantasioso.

O fato é que tivemos um ano bem difícil! Em janeiro, chegamos muito perto de uma 3ª Guerra Mundial, com ataques entre bases do Irã e dos Estados Unidos no Oriente Médio. Cerca de 500 milhões de animais completamente indefesos morreram numa série de incêndios na Austrália. O Reino Unido saiu, formalmente, da União Europeia e, em menos de uma semana, um tal de novo coronavírus infectou mais de dez mil pessoas e matou mais de 200. Em 30 de janeiro a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou um “surto de doença respiratória de novo coronavírus em estado de Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional.

Em fevereiro, o novo coronavírus chegou ao Brasil, com um primeiro caso na cidade de São Paulo.

No dia 11 de março, a OMS declara como “pandemia a doença do surto de novo coronavírus no mundo”. As reações são imediatas no incrível mundo globalizado: Os mercados de ações globais sofrem seu maior declínio em um único dia desde a segunda-feira negra de 1987. Era o primeiro sinal de desespero. Eventos como as Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 2022; Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA; Campeonato Europeu de Futebol de 2020 e Copa América de 2020; Festival Eurovisão da Canção 2020 e até os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 são cancelados.

Em abril, no dia 10, o Brasil chegou às primeiras 1.000 (mil) mortes por COVID-19. Mostrando que isso não era só “uma gripezinha”, como insistia em dizer o presidente daqui… Enquanto isso, nos Estados Unidos, os casos confirmados de COVID-19 chegaram a 1 milhão, também mostrando que não era algo “inofensivo e passageiro” como insistia em dizer o presidente de lá…

Em maio, com 330 mil infecções, o Brasil superou a Rússia e se tornou o segundo país com mais casos confirmados de COVID-19 no mundo. E o presidente insistindo em minimizar a situação. Como se não bastasse, mais animais silvestres morrem, desta vez, no Pantanal Matogrossense.

Em junho, com mais de 41 mil mortes, o Brasil superou o Reino Unido e se torna o segundo país com mais mortes de COVID-19 no mundo. Mas o presidente e seu exército de fanáticos continuam negando a gravidade da situação. Já era 1 milhão de casos confirmados de COVID-19.

Em agosto, o número mundial de mortes causadas pela COVID-19 já ultrapassava a marca de 700 000 e o presidente da Rússia declarou que o país já havia aprovado a primeira vacina do mundo contra a doença. Mas até hoje não sabemos se era verdade ou só um porre de vodka do Putin…

Em setembro, o número mundial de mortes causadas pela COVID-19 ultrapassa a marca de 1 milhão.

Em outubro, o Brasil atingiu 5 milhões de casos confirmados de COVID-19 e superou as 150 mil mortes causadas pela doença. Como se não bastasse tanta tragédia ao longo do ano, ataques terroristas voltam a abalar a França pela selvageria – vítimas foram decapitadas na rua, em plena luz do dia.

Em novembro, finalmente, apesar de mais dias terríveis, sem luz, sem água, sem comida e sem dinheiro aqui no Amapá, começam a aparecer as boas notícias. Primeiro, Donald Trump perde as eleições nos Estados Unidos, não conseguindo se reeleger, apesar de até hoje estar esperneando e fazendo beicinho.

Os fascistas apoiados por Bolsonaro levam uma surra nas urnas e quase nenhum dos vermes consegue se eleger para prefeito, vereador ou síndico de condomínio… Até que no dia 2 de dezembro o Reino Unido aprovou a vacina BNT162b2 da Pfizer, sendo o primeiro país do mundo a aprovar uma vacina contra a COVID-19.

Ainda em dezembro, no dia 21, Júpiter não se alinhou com Marte, como diria a música, mas com Saturno, num evento que só acontece aproximadamente a cada 400 anos. Os astrônomos disseram que se tratava do mesmo fenômeno astronômico descrito na Bíblia como a Estrela de Belém, que teria guiado os Reis Magos até a manjedoura onde acabara de nascer Jesus, o Cristo, cerca de 2020 anos atrás.

Talvez este evento sirva para lembrar – pelo menos aqueles que se importam com a magia da vida neste planeta – que, por mais que o ano tenha sido difícil, sempre há uma esperança. E a luz sempre acaba rompendo a escuridão, por mais assombrosa que ela seja.

Ao longo do ano, muita coisa boa também aconteceu, tanto individualmente como coletivamente. Nos primeiros meses, o isolamento social forçado pela pandemia ajudou a fazer com que a natureza voltasse a respirar um pouco e regenerasse seus recursos. Foram registrados altos índices de melhoria nas condições do ar e de muitos mananciais de água. Muitos gestos de amor ao próximo de anônimos se fizeram perceber por várias partes do mundo. Muitas pessoas reavaliaram suas vidas, seu valores, suas prioridades. Outras encontraram um sentido na vida em ajudar alguém. Pudemos perceber, pela primeira vez em anos – talvez em séculos – o quanto estávamos já isolados de nós mesmos e das coisas e pessoas que realmente importam nas nossas vidas e tivemos a chance de nos reaproximarmos de nós mesmos, de convivermos com nós mesmos, até de perdoarmos a nós mesmos…

(Ilustração: Manuel Granja)

Óbvio que para muitos o egoismo continua prevalecendo. São aqueles que negam tudo o que aconteceu e ainda está acontecendo. São aqueles que se recusam a usar uma simples máscara. São aqueles que se recusam a tomar uma vacina que vai, se não acabar, pelo menos controlar mais um pouco o avanço desse vírus e desse caos. São aqueles que acreditam que o planeta é uma tábula rasa, que só o dinheiro salva e que comunista come criancinhas – quando na verdade, muito padre de reputação ilibada é quem está sendo preso por “comer” criancinhas a redor do mundo…

Ainda assim, acredito piamente que 2020 é um ano que tem muito o que comemorar. E mais! Que jamais deverá ser esquecido!

Perdemos e continuamos a perder muita gente querida. É triste. Mas eu aprendi que as coisas são como são. Simplesmente é assim. E temos que conviver com isso. Vamos sofrer? Vamos. E muito! Mas não tem nada errado em sofrer. As lições mais importantes da vida são aquelas que nos chegam geralmente pelo sofrimento e pela dor. Mas isso não é desculpa para querer deixar de viver. Muito pelo contrário.

O que precisamos fazer é mudar nossa atitude perante a vida e aproveitar e celebrar cada minuto que temos como se fosse o último, seja por causa de pandemia, de guerra, de ataques terroristas, ou simplesmente pelas agruras do nosso cotidiano.

*Silvio Neto é jornalista e pilota o blog “A Vida é Foda” (aliás, recomendo, saquem lá).

Frases, contos e histórias do Cleomar (última Edição de 2020)

Tenho dito aqui – desde fevereiro de 2018 – que meu amigo Cleomar Almeida é cômico no Facebook (e na vida). Ele, que é um competente engenheiro, é também a pavulagem, gentebonisse, presepada e boçalidade em pessoa, como poucos que conheço. Um maluco divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade, além de inventor do “PRI” (Plano de Recuperação da Imagem), quando você tá queimado. Quem conhece, sabe.

Em 2020, assim como a primeira, de março passado, a segunda de maio, a terceira em junho, a quarta em agosto, a V Edição Especial Coronavírus (agora com campanha política e apagão) em novembro, agora a última Edição deste ano, cheia de disparos virtuais do nosso pávulo e hilário amigo sobre situações vividas e legendadas por ele mesmo. Boa leitura (e risos):

Amapá para os fortes

Na encarnação passada os amapaenses moravam no Principado de Mônaco, só assim pra justificar tanta desgraça, fdc!

Patetice no supermercado

Deve ter algum aparelho que desliga o miolo das pessoas quando elas entram no supermercado. Nego não acerta andar direito, deixa carrinho atravessado no corredor, pega carrinho errado, fica parado feito poste, outros falam sozinhos. É muita patetice!

Dica

Gente, não se metam com aquela tal de Brahma Duplo Malte. Papo de amigo.

Filho

Depois que o cabra tem filho, não tem ida de menos de cem reais no supermercado.


Vacina

Se o pessoal do Sifudistão aparecer com uma vacina pra Covid eu tomo, comigo não tem dessa.

O cara que já tomou aquelas batidas de maracujá que vende na Banda, não pode jamais ter medo de vacina Chinesa.

Eleições 2020

8:00 da manhã. Já pode correr pra fazer merda e passar quatro anos reclamando. Democracia é tudo!

Política amapaense tá parecendo suruba de gente feia, creeedo!

Presta atenção, o problema de vc não ir votar é que eles vão.

Quando vejo a lista de vereadores eleitos e reeleitos, cheia de filhinhos de papai deputado e outro bando de faz nada, percebo que o macapaense gosta mesmo é de tomar no cu.

Anatomia

2020, o ano em que fiquei sem pescoço.

A Eleição acabou, chega de guerra!

Arte de Ronaldo Rony, colorida por Adauto Brito.

Essa foi, sem dúvida, a eleição que eu vi mais porrada entre amigos, familiares e colegas. Não foi meu caso, pois não briguei com ninguém. Pelo contrário, tava de longe, olhando.

Mas já é hora de dar um basta. Torço para o lado vencedor cumprir suas promessas e que Macapá melhore ainda mais, para o bem de todos nós. Já chega de discussões no Facebook e Twitter. Desfaçam os palanques que estão dentro de vocês. Pelo menos por hora.

Claro que vai demorar um pouco para as feridas cicatrizarem, mas é preciso parar de cutucar para que isso aconteça. E esse papo de vingancinha é pra nego otário. Se quiser ir à forra, vá, mas não dê bocão.

Foi muita onda nas redes sociais. As rusgas e brigas não ajudarão em nada agora. Afinal, todos moramos nesta cidade no meio do mundo. Seguimos com nossas preferências, ideologias, posicionamentos etc. Mas tudo isso aí já encheu o saco. Portanto, é hora de paz.

A eleição acabou e, a não ser que você seja um dos políticos profissionais, é hora de agir de acordo com a realidade. Grato pela atenção.

Elton Tavares

Perolina Penha Tavares gira a roda da vida pela 94ª vez. Feliz aniversário, vovó!

Perolina Penha Tavares, a minha mais que maravilhosa avó paterna, gira a roda da vida pela 94ª vez. Todos os anos, desde que me tornei jornalista e criei este site, tento escrever algo que demonstre, pelo menos um pouco, do tanto de amor que sinto por essa linda, educada e elegante senhora, a nonagenária mais linda do mundo e um dos grandes amores de minha vida. Não é fácil, mas tento. Vamos lá.

Como em outros anos, começo este texto sem saber o que escrever. Não dá pra formatar em palavras o que sinto pela minha avó e tudo que ela fez por mim. Quem me conhece sabe do amor e laço que tenho com minha família. Desde que pintei aqui, em setembro de 1976, a Peró, que ia completar 50 invernos, me pegou no colo e andamos de mãos dadas pela vida por todo esses 44 anos. Devo tanto a ela, é difícil mensurar. Sempre me gabo que sou seu neto preferido (apesar de a Ana Paula, minha amada prima, emparelhar forte comigo) e temos uma sintonia mágica.

Sou o mais velho entre nove netos e três bisnetos da Peró. Tento ser presente, atencioso e dar um pouquinho do amor que recebi ao longo de minha vida. Nem sempre consigo, pois por conta do trabalho e das minhas loucuras, me tornei um pouco mais ausente da casa da vó na última década.

Porém, isso em nada diminuiu o nosso recíproco laço amoroso. Ela e tia Maria – outro de meus grandes amores e a melhor filha que alguém pode ter neste mundo – sabem que, quando é preciso, estou lá, junto, pra qualquer coisa. É uma baita sorte se você tem muitos amigos dentro da sua família.

Natural do Mazagão, mas paraense na carteira de identidade (época de Grão-Pará), vovó e João Espíndola Tavares (Juca), seu marido e meu saudoso avô, são pioneiros desta cidade no meio do mundo e nosso lugar no universo. Aqui criou seus  cinco filhos. Batalhou junto com o Juca e tiveram uma vida feliz, o que me recordou o ‘Veni, vidi, vici’, como disse Júlio César.

Vovô e Zé Penha (papai) partiram. A Peró manteve a família unida em torno dela. Sim, ela é o esteio, a estrela guia, o nosso núcleo de amor. Quem teve o prazer de ter um pouco de sua companhia sabe que vovó é uma pessoa sensacional, sábia, ponderada, discreta e bem humorada. Há muita força em toda sua delicada forma de existir. Se “O inferno verdadeiro é a vida que deu errado” – Albert Lewis (Cuba Gooding Jr.), no filme “Amor Além da Vida”, o certo é que o avesso disso é minha Peró, pois a vovó deu e dá certo!

Já disse e repito: Perolina Penha Tavares pintou sua sua trajetória primeiramente com as cores que pôde e depois com as tintas que quis. E fez um belo trabalho. Dignidade e elegância são sinônimos para nossa rainha. Eu queria saber escrever música e tocar violão. Certamente teria composto várias canções de amor para ela.

Sempre recebi da Peró o máximo de amor. Horas em forma de uma comida especial, noutras num carinho, conselho, presente, ralho, orações, defesas (falem mal deste cara aqui pra ela e verão a confusão), entre outras tantas lindas manifestações. Sou absurdamente grato e incalculavelmente louco por ela.

Outra coisa que falei/escrevi no texto de 2019, foi: das poucas coisas que faço direito, uma delas é amá-la.  O homem que a Peró ajudou a formar o caráter, agradece por tudo dito/escrito aí em cima e muito mais que não cabe em somente um texto de aniversário. Quando eu fizer 50, ela fará 100 dezembros. E ainda caminharemos juntos pelo tempo, com o amor de sempre e nosso raro elo.

Sim, a Peró completa 94 anos, lúcida e profundamente amada por nós. Que sorte a nossa, seus filhos e netos, que podemos dar e receber todo esse amor, nessa força criada por ela. Toda honra e toda glória para nossa Pérola Negra!

Vovó, mais tarde irei ter dar um beijo. Sou só gratidão a ti e a Deus por ser teu neto, o que é uma honra. Amo-te! Parabéns pelo teu dia e feliz aniversário!

Elton Tavares (mas também em nome de José Penha Tavares e Emerson Tavares).

Revista Cláudia escolhe amapaense entre as cinco mulheres mais brasileiras que fizeram a diferença para tornar 2020 menos traumático

A Revista Cláudia escolheu, em publicação do último dia 17 de dezembro, a amapaense Alzira Nogueira entre as cinco mulheres mais brasileiras que fizeram a diferença para tornar 2020 menos traumático.

Assistente social e mestre em sociologia, Alzira Nogueira também é voluntária e porta voz da Central Única das Favelas (CUFA). Ela botou pra quebrar na ajuda às vítimas da pandemia e apagão no Amapá este ano. Neste site, divulgamos todas essas ações e estamos felizes e orgulhosos por este reconhecimento justo à Alzira.

Uma professora de, uma ativista pela biodiversidade, uma atleta do basquete nacional e enfermeira completam a lista da publicação.

Alzira Nogueira é voluntária de projetos sociais nas comunidades do Amapá. Ilustração: @drawingzila Acervo Pessoal/CLAUDIA

Leia o que a Revista Cláudia destacou sobre Alzira Nogueira:

Logo nos primeiros meses do isolamento no Brasil, a servidora pública Alzira Nogueira da Silva, 48 anos, passou dias nas ruas de Macapá, onde conseguiu ajudar na distribuição de mais de 6 mil cestas básicas. Em comunidades e periferias das cidades brasileiras, o esforço de pessoas como ela se tornou crucial para colocar comida na mesa de famílias cuja renda foi ceifada pela crise sanitária.

Muita gente não obteve nem sequer acesso ao auxílio emergencial. “Quem mais sofreu foram as mulheres negras, porque enfrentaram a perda de entes queridos enquanto eram afetadas por uma piora situação da prévia de vulnerabilidade social”, observa Alzira, voluntária do Centro de Atividades Sociais da Periferia (Casp), da Central Única das Favelas (Cufa) e da organização Amapá Solidário.

A calamidade se agravou quando, em novembro, 13 dos 16 municípios do estado ficaram no escuro após um incêndio em sua principal subestação de energia elétrica. Cerca de 765 mil amapaenses se viram sem eletricidade, o que afetou não só as casas de famílias e o comércio mas também o atendimento em hospitais.

A partir de então, foram três semanas de difícil acesso a refrigeração para alimentos, internet, caixas eletrônicos e água potável – sem contar as escassas oportunidades de comunicação para mostrar ao restante do país a gravidade da situação. Para um dos estados brasileiros mais carentes, a combinação das duas crises foi explosiva.

Poucos dias antes, Alzira havia testado positivo para Covid-19, o que a manteve afastada da mãe, de 80 anos, e da filha, de 8, e a obrigou a parar com o atendimento. “Consegui um jeito de carregar o celular e trocar mensagens pedindo recursos e donativos”, conta. Com esse esforço, mais mil cestas chegaram.

“Quando o problema se restringia à pandemia, nossa preocupação era, além de comida, conseguir máscaras e álcool em gel. Com a nova situação, faltava tudo.” Para ela, é preciso ser uma fortaleza para manter a esperança em meio ao caos e ao abandono que as comunidades enfrentam: “Não podemos parar para sofrer, senão perderemos ainda mais gente”.

Matéria completa, com as outras mulheres notáveis do Brasil que fizeram a diferença em 2020, você lê AQUI.

*Contribuição de Camila Karina. 

Resenha do livro “Em algum lugar nas estrelas”, de Clare Vanderpool – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

“Lá em cima é como aqui embaixo, Jackie. Você precisa procurar as coisas que nos conectam. Encontrar os jeitos com que nossos caminhos se cruzem, nossas vidas se interceptam e nossos corações se encontram”.

Este trecho faz parte da lembrança do narrador da estória. Na minha opinião, o trecho em questão, demonstra como é singela e linda esta obra. Trata-se de um garoto do Kansas, Jackie, que ao despedir-se do pai que embarcava para lutar na segunda guerra, ouviu : “Cuide de sua mãe “. Acontece que a mãe do menino sofre um aneurisma e morre durante a ausência do pai. Isso perturba Jackie arduamente, pois o garoto imputa a si mesmo culpa, por ter deixado a mãe sozinha e estar no celeiro durante o ocorrido. Quando o pai de Jackie retorna, os dois não encontram mais familiaridade entre eles. A relação se torna difícil, então o pai do garoto resolve colocá-lo em um colégio interno da Marinha, no Maine, Estado americano conhecido por seu litoral. Lá ele conhece Early, um aluno que morava na sala do zelador. Early é autista, mas é tido apenas como um garoto estranho. Pois em 1945, ainda não se tinha o diagnóstico de autismo. Ele também perdeu alguém na guerra, o irmão. Early carrega hábitos bastante peculiares para um menino, mas completamente normais para um autista. Separa balas de goma por cores quando tenta se acalmar, e as enfileira quando quer pensar. A vida de Early tinha uma organização compreendida, inicialmente, só por ele, como sua seleção musical: Domingo, Mozart. Terça sem música. Quarta, Frank Sinatra. Quinta sem música. Sexta, Glenn Miller.

Sábado sem música e Billie Holiday em todos os dias de chuva. Early, principalmente, tinha uma fixação pelo número Pi. Ele dizia saber ler as cores e as texturas dos números e dizia ter uma história na sequência, A história de Pi. Através das atividades com os barcos, Jackie e Early ficam amigos. Durante as conversas entre os garotos, Early, narra para Jackie as aventuras de Pi. A narrativa sobre Pi ocorre simultaneamente à estória dos garotos. Um professor apresenta uma tese, onde havia um estudo que demonstra a finitude de Pi. Early não aceita a tese, dizendo que Pi não acabava, só estava perdido. Durante o feriado de fim de ano, o pai de Jackie tem um imprevisto e não vai buscá-lo. O que tem como consequência, a saída de barco dos garotos atrás de Pi. A Cruzada pertencia a Early, mas Jackie descobre tanto ou muito mais que o amigo durante a aventura.

Como em minha vida fora dos trilhos, em outra obra de Clare Vanderpool, a amizade é mostrada de forma muito bela. Pois a autora se preocupa com a construção, colocando cada tijolinho a cada diálogo e, principalmente, nos dias de chuva. Dentro da minha visão, o ponto alto está em saber lidar com a perda. Os dois personagens procuram preencher o vazio da perda que os atormenta. E percorrendo este caminho, se encontram com outros personagens, como Gunnar, Martin e Eustasia, que carregam, embora trágicas, lindas histórias de amor. A narrativa é simples, sensível e linda. Teria que fazer uso de desagradáveis spoilers para descrever quão agradável foi ler este livro.

Então, vou limitar-me a dizer uma única coisa: Quando chove, é sempre Billie Holiday.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.